A prece que salva está sempre aberta à realização da vontade do Pai que está nos Céus, que deseja salvar a todos. E a oração dominical do Pai-Nosso carrega o cerne dessa súplica quando reza: “seja feita a vossa vontade!”. São Tiago, contudo, nos adverte que corremos o risco de rezar como não convém, nutridos de uma secularidade invencível, pensando apenas na vida temporal, desconsiderando a eternidade, bastante enraizados nas paixões egoístas da alma. Diferente disso é a ação do Espírito Santo que ora em nós e por nós, quando nos deixamos sustentar pelo seu poder. A oração guiada pelo Espírito: corajosa, humilde, gentil e confiante; esta oração, salva quem se coloca em prece, e eleva o mundo, comunicando pela comunhão dos santos, graças e bênçãos a todos, pois seu penhor é o amor (cf. Tg 4,3; Rm 8,26-27).
A prece de Nossa Senhora nas bodas em Caná da Galileia é uma oração que salva; num diálogo amoroso com seu Filho, Jesus Cristo, ela solicita o lugar que o Pai celestial lhe concedeu como Sua Mãe. A situação é terrena, uma festa de casamento, e a necessidade, altamente temporal, o vinho da festa; mas tão grande é o amor presente ao milagre, que o sinal transborda a graça e desperta fé dos discípulos (cf. Jo 2,11).
Há outros modelos da oração que salva no Evangelho: a cananeia que pede por sua filha e o centurião romano que suplica por seu servo. Em cada uma dessas situações a prece, mesmo relacionada às necessidades temporais, não se resume a elas, não se reduzindo a um apego invencível. São preces abertas à expansão milagrosa da caridade de Cristo, que faz o ser humano amadurecer. Quem encontra o que busca em Cristo, alimenta-se na solidez na fé, não apenas no leite espiritual; e consolida seu seguimento e discipulado, mesmo que anônimo (cf. Mt 15,21-28; Lc 7,1-10).
As passagens a respeito daquele que incomoda o amigo à noite, em necessidade, e da viúva que visita o juiz pedindo justiça contra seu adversário, ressaltam como a oração que salva experimenta resistência no coração de Israel, inclusive no coração dos discípulos, que por vezes querem dispensar os necessitados e suas “preces”, agindo humanamente (cf. Lc 9,12; 11,5-8; 18,1-8).
A oração que salva não é apenas prece, mas é carregada no Espírito Santo; que o Pai dá como dom supremo a quem se Lhe dirige em súplica, para orar como convém. Não é só um pedido diante de uma necessidade transitória, mas encontra eco na liberalidade do coração de Deus que é amor; é um filho que pede ao seu pai. E o pai lhe dá o que pede, não por aquilo que pede, porque pode ser insignificante, mas porque é filho, e Ele é seu Pai (cf. Lc 11,9-13).
Não existe oração verdadeira fora do desígnio da filiação divina, penhor do Reino dos Céus. A prece que salva brota do coração de um homem e de uma mulher criados para se tornar filho e filha de Deus. E chega ao coração do Pai celestial pelo único caminho de graça que é Jesus Cristo. E é pronunciada no único Nome pelo podemos ser salvos. E no único Espírito no qual estamos selados para a Vida Eterna (cf. At 4,11-12; Ef 1,13; 4,30; Hb 9,1-14). Tal oração expressa ao Pai a memória da nossa existência em Cristo, e de Sua glória no Céu, e manifesta a infinita condescendência, que comumente chamamos de fraqueza, na qual se oculta sua força incomensurável (cf. 2Cor 12,9).
Ninguém, pois, se exclua do direito à oração que salva, radicada no amor, pois tal prece lhe é intrínseca à sua própria natureza humana, e conforme à vontade de Deus.
Padre Rodolfo Gasparini Morbiolo