O que escutar de Deus que nos fala por meio do Menino Jesus

Ao entrar na história da nossa vida, Deus nos diz: nossa vida não é insignificante, pois Ele nos ama. Ele deseja ser e viver como um de nós, para além de Sua condição divina; também deseja que estejamos ao seu lado e ao seu redor, quer-nos junto dEle para sempre; quer ser amigo e fazer-nos amigos uns dos outros. O presépio nos comunica grandes mensagens. Vamos meditar brevemente algumas delas:

 

Humildade. O presépio é humilde. A Sagrada Família do Menino Jesus é humilde. Deus se faz humilde. Assim, manifesta a derrota do orgulho original que fez a morte entrar no mundo. O humilde se desveste de seus direitos e dignidade, como o Filho de Deus ao entrar no mundo. Ele aniquilou-se! Fez-se pequeno, pobre, humano. Seguir esses passos do Salvador nos convida a um contínuo despojamento até do que consideramos nossos direitos; um despojamento por amor a Deus e aos irmãos, para que obra seja realizada. Somos convidados a sair da frente para que a obra divina se realize para todos.

 

Mais do que os olhos podem ver. O Menino Jesus é um desconhecido para mundo judaico (e também para o mundo romano). Quando inicia sua missão, já adulto, todos ficam deslumbrados de sua origem humilde e apagada, e de sua família pobre. De fato, a grandeza da linhagem davídica havia se apagado ao longo de mil anos. E assim o projeto de Deus se escondia num lugar onde os maus não podiam ver. Somos convidados a entender que para ver o projeto de Deus precisamos estar atentos no Espírito. Deus se revela e se manifesta aos pequenos, mas se esconde dos estultos deste mundo. E se queremos realmente realizar alguma obra na presença de Deus, precisamos aprender a nos ocultar dos holofotes das mídias de massa, com seus propagandismos utilitários, que estimulam os vícios capitais (inveja, ira, ódio, vaidade etc.) instigando à diminuição da dignidade humana.

 

O realismo da fé. A fé cristã é real, e por ser assim comporta movimentos e atitudes, comportamentos e também sentimentos. A fé convoca o ser humano a gestos e palavras salvadoras. Diante do Menino Jesus não bastam lágrimas; faz-se necessária a solidariedade para com Deus. Sim, para com Deus, pois ao longo da Antiga Aliança, Deus muitas vezes é mal compreendido como um pai mau e duro demais com seu povo; bem diferente da imagem revelada por Jesus na parábola do Filho Pródigo. É necessário que paremos de impor a Deus nossas categorias humanas de relação e nosso modo humano de comportamento para escutar no Espírito quem é o Pai do Céu que o Filho feito homem nos revela nos Evangelhos. Também somos convidados à solidariedade para com cada ser humano, pequeno e frágil que vem a este mundo, e para com as famílias sofridas que choram para salvar seus filhos e filhas da perseguição dos males deste mundo. Na pobre Família de Nazaré precisamos ser solícitos à vida que brota nas encostas da história e que se não for socorrida, morrerá!

 

Sair de nós mesmos e de nossos projetos. Finalmente, indo ao presépio precisamos sair de nós mesmos, de nossos projetos e sonhos, para viver os sonhos e projetos de Deus. Aí vão nossas desculpas:

 

. Não tenho tempo. Tem sim! Basta boa vontade, e deixar de lado a preguiça. Quando escolhemos coisas que são agradáveis (um passeio, uma viagem de férias, um dia de festa), nem nos importamos de noites mal dormidas e de trabalhos demais. Logo, temos tempo de sobra para fazer o bem enquanto estamos no mundo.

 

. Não sou capaz. É sim! Principalmente, porque quem capacita é Deus e sua graça. Basta a oração perseverante para alcançar os talentos e qualidades para servir. Para servir da maneira única como cada pessoa pode ser, sem imitar os outros ou invejar qualidades alheias.

 

. Não me sinto preparado (a). Também como a capacitação, a preparação é fruto de um caminho feito com amor e dedicação. Ninguém nasce sabendo nada nesse mundo, nem a Virgem Maria, menos São José. O próprio Jesus não sabia carpintaria até conviver com seu pai na sombra, que lhe ensinou o ofício terreno e transitório, que também se tornou seu sobrenome: Jesus, filho de José o Carpinteiro.

 

Assim, o Natal e o presépio nos convidam à coragem de sair de nós mesmos, à coragem de dizer sim, à humildade de depender só de Deus, à sensibilidade de perceber as necessidades ao nosso redor e de colocar-se à disposição para fazer o bem, sem julgamentos e sem espera de recompensa. No novo tempo que virá, quando Deus lhe chamar através de alguém, ou quando as necessidades gritarem seu nome, não se oculte do chamado do Menino Jesus, levantai-vos, e ide correndo ao encontro do Salvador: para além do presépio, na Igreja, na sociedade, na família e no mundo, pois é aqui, na história da humanidade, que Ele escolheu ser encontrado, amado, servido e adorado.

 

Feliz Natal.

 

Padre Rodolfo Gasparini Morbiolo

Paróquia Santa Maria dos Anjos – Vitória Régia – Sorocaba

 

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