“Dei Verbum” é uma das quatro constituições do Concílio; uma constituição dogmática para falar sobre o tema da revelação divina e sua transmissão pelo caminho das fontes da fé: a Sagrada Escritura, a Tradição Apostólica e o Magistério Eclesial. O texto foi finalizado em outubro de 1965, aprovado e promulgado em 18 de novembro de 1965, com 2344 votos a favor, e 6 votos contrários.
O ponto de partida do documento ressalta que a decisão de Se revelar é divina, parte de Deus mesmo, corresponde ao seu desígnio, levado à plenitude em Jesus Cristo, Filho Unigênito do Pai feito homem (Capítulo 1). Os apóstolos e seus sucessores, aqui inclusos os evangelistas, que oportunamente consignaram por escrito os eventos e o ensino de Jesus, como ainda os bispos da Igreja e seus colaboradores, encontram-se na ordem da transmissão e comunicação da revelação divina, desde aquele encontro original com o Senhor que lhes moldou uma nova história de vida neste mundo, lhes constituindo como Igreja nascente (Capítulo 2).
Em se falando da Sagrada Escritura, o documento conciliar entende que todos os processos, etapas e pessoas (verdadeiros autores que escreveram os textos sagrados), a tudo isto se aplica o princípio irrenunciável da inspiração divina, pois Deus é o autor por excelência da Escritura como um todo, Antigo e Novo Testamentos (Capítulos 3, 4 e 5). A Igreja venera as Escrituras, traduz e investiga, cientifica e teologicamente os textos sagrados, e incentiva a leitura e a oração que dela provém, pois compreende que no horizonte das fontes da fé, as Escrituras ocupam lugar fundamental (Capítulo 6). Há, sem dúvida, uma primazia da Escritura, Palavra de Deus, à reflexão teológica, à liturgia que dela depende, e à pastoral que precisa inspirar-se nEla.
Pertencem ao documento conciliar as citações abaixo:
Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade, segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (DV, 2).
Depois de ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, falou-nos Deus nestes nossos dias, que são os últimos, através de Seu Filho (DV, 4).
[…] para que o Evangelho fosse perenemente conservado íntegro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram os Bispos como seus sucessores, “entregando-lhes o seu próprio ofício de magistério”. Portanto, esta sagrada Tradição e a Sagrada Escritura dos dois Testamentos são como um espelho no qual a Igreja peregrina na terra contempla a Deus, de quem tudo recebe, até ser conduzida a vê-lo face-a-face tal qual Ele é (DV, 7).
Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria (DV, 11).
A “economia” do Antigo Testamento destinava-se sobretudo a preparar, a anunciar profeticamente e a simbolizar com várias figuras o advento de Cristo, redentor universal, e o do reino messiânico (DV, 15).
Ninguém ignora que entre todas as Escrituras, mesmo do Novo Testamento, os Evangelhos têm o primeiro lugar, enquanto são o principal testemunho da vida e doutrina do Verbo encarnado, nosso salvador. A Igreja defendeu e defende sempre e em toda a parte a origem apostólica dos quatro Evangelhos. Com efeito, aquelas coisas que os Apóstolos, por ordem de Cristo, pregaram, foram depois, por inspiração do Espírito Santo, transmitidas por escrito por eles mesmos e por varões apostólicos como fundamento da fé, ou seja, o Evangelho quadriforme, segundo Mateus, Marcos, Lucas e João (DV, 18).
A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo. Sempre as considerou, e continua a considerar, juntamente com a sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé… (DV, 21).
Em tempos atuais, durante o papado de Bento XVI, a Igreja reunida em Sínodo sobre a Palavra de Deus aprofundou esta temática tão importante. Os trabalhos sinodais culminaram na Exortação apostólica “Verbum Domini”, que acabou por reunir os grandes esforços de inúmeros documentos anteriores do magistério, iluminados pela “Dei Verbum”, bem como os estudos anteriores publicados pela Pontifícia Comissão Bíblica da Santa Sé Romana.
No Jubileu da Esperança, este ano de 2025, ressoa o convite de voltar às Escrituras, de modo especial aos Evangelhos, fonte primordial da revelação divina, como exortou insistentemente o Papa Francisco em muitas ocasiões, de modo especial na “Evangelii Gaudium”: deve produzir em nós verdadeira alegria ler, rezar, proclamar, e sobretudo viver os Evangelhos, levando a Palavra aos irmãos, e conduzindo todos a Jesus Cristo, plenitude da revelação de Deus.
Padre Rodolfo Gasparini Morbiolo (Abril, 2025)




