Homem e Mulher

O livro do Gênesis sublinha que tanto o homem quanto a mulher foram criados à imagem de Deus (1,26-27). Com essa afirmação fundamental, se evidencia que os dois, o homem e a mulher, foram igualmente desejados por Deus e que a dignidade de imagem é a mesma nos dois. Dado que Deus a quis, a distinção sexual é boa e não é um obstáculo para a comum dignidade. O homem e a mulher têm absolutamente a mesma dignidade, ainda que exprimam, no criativo desenrolar do seu ser masculino e feminino, aspectos distintos da perfeição de Deus.

Nada há de estranho que na Bíblia Deus apareça com traços masculinos e femininos de mãe, esposo, pai. Deus não é, evidentemente, homem ou mulher, pois a distinção sexual  é próprio do ser humano. De Deus, porém, provém as qualidades e as perfeições que caracterizam o homem e a mulher: tanto o masculino quanto o feminino são participação diferenciada ao ser perfeitíssimo de Deus.

O homem e a mulher não foram criados somente juntos, mas também um para o outro. No relato da criação da mulher (2,18-24), o homem a reconhece como carne da sua carne e a descobre como um ser com o qual está unido por um vínculo que não depende da sua vontade, mas do próprio desígnio divino.

Deus fez o ser humano de tal forma que este, sendo homem ou mulher, anseia pela realização do dom de si no encontro com o sexo oposto. No amor do homem e da mulher, especialmente na comunhão matrimonial, em que o homem e a mulher se tornam “uma só carne”, o ser humano pode pressentir a felicidade da união com Deus, na qual ele achará a definitiva totalidade (YouCat, 64).

O homem e a mulher, considerados em si mesmos, não são incompletos. O fato de serem ambos criados à imagem de Deus, faz com que cada um deles tenha uma vocação irremissível: cada um deles é um “tu” para Deus. Somente se considerarmos o homem e a mulher como pessoas no senso pleno da palavra, capazes de auto-possessão e de autodoação, tem sentido o dom de si mesmo que eles se fazem reciprocamente no matrimônio. Com essa união, eles formam “uma só carne”, não no senso de que o ser pessoal deles desapareça ou seja absorvido em uma unidade superior, mas no senso de que a personalidade de cada um deles recebe dessa união uma nova conotação. Em virtude dessa união, podem transmitir a vida humana e cooperam de maneira única com a obra do Criador. Com efeito, não há maior cooperação na obra criadora do que aquela que se realiza na procriação.

O ser humano se assemelha, por um lado, aos animais, porque foi feito como eles “macho e fêmea”, e, por outro, se assemelha a Deus, porque é capaz de dar a vida no amor e por amor. A geração humana não pode ser descrita simplesmente como fruto de uma relação carnal, pois é capaz de expressar uma qualidade “divina” quando ocorre de acordo com a maneira como Deus dá vida a cada pessoa, isto é, em benevolência gratuita (PCB, O que é o homem?, 48).

Tertuliano (220) descreveu magnificamente a felicidade da união matrimonial.

Quem pode descrever a felicidade de um matrimônio que a Igreja consagra, a Eucaristia confirma, a bênção imprime seu selo, os anjos aclamam e que o Pai aprova? Como é lindo o jugo que une dois fiéis que têm uma única esperança, um mesmo desejo, a mesma regra de vida, a mesma vontade de servir! Ambos irmãos, ambos servos de Deus; nenhuma separação entre ambos, nem de carne nem de espírito. São realmente dois numa só carne, mas onde há uma só carne, ali há também um só Espírito: juntos, com efeito, rezam, juntos fazem penitência, juntos jejuam; ensinam-se mutuamente, um ao outro se encorajam e se sustentam. Juntos na Igreja de Deus, juntos na mesa do Senhor, juntos nas dificuldades e sofrimentos e juntos no descanso. Nenhum dos dois se esconde do outro. Se é preciso visitar um doente ou ajudar um indigente, fazem isso com toda liberdade; esmola é sem tormento, os sacrifícios sem relutância, a obediência cotidiana a Deus sem resistência. Não há necessidade de fazer o sinal da cruz em segredo, de louvar a Deus com medo do outro ou de pronunciar a bênção em silêncio. Rezam juntos os salmos e hinos e competem para ver quem canta melhor a Deus. Ao ver e ouvir estas coisas, Cristo se alegra e lhes envia a sua bênção. Onde os dois estão, aí está Cristo (Ad Uxorem II,6-9).

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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