Quinta-feira 34ª Semana TC
Lc 21,20-28
Quando os cristãos da Igreja primitiva ouviam este evangelho, a recordação da tragédia de Israel e da destruição do templo de Jerusalém era muito viva. Os acontecimentos do ano 70 d.C. estavam na mente dos ouvintes: a antiga terra das promessas tinha-se convertido em ruínas; Jerusalém estava destroçada; do templo não tinha sobrado pedra sobre pedra.
Em continuidade a essa ruína muito concreta e viva na memória, se acrescenta a crise do fim do mundo. Os astros se desfazem e o mundo todo é tomado pela ameaça da morte e da destruição. E não se trata só de destruição. É mais do que isso: é a sensação do fracasso tanto social quanto cósmico.
Será que não vivemos também hoje esses sinais: não somente de uma destruição cósmica (devastação da natureza, da sociedade, da família) mas também de um fracasso social e cósmico?
Há um fortíssimo contraste entre a descrição que Jesus faz dos últimos acontecimentos (as forças dos céus serão abaladas e a humanidade estará angústia) com a exortação final: “quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”.
A Igreja deve continuar a confessar que em meio ao fracasso humano e social e à agonia do universo e da história, está uma presença salvadora. Em meio à crise, entrevemos que há uma presença que nos chama.
A vida, a história, o cosmo estão cheios de “sinais-palavras-absurdas”, que anunciam a morte, o fracasso e o vazio de sentido. Os cristãos, porém, encontram neste mesmo mundo e história a grande Palavra: misteriosa e consoladora, paradoxal e cheia de esperança: “quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”.
O sentido da nossa vida, da história e do mundo não está centrado no fracasso dos povos nem terminará no vácuo. O sentido é Cristo: morto e ressuscitado. Na agonia da história que nos tritura, está Cristo, triturado e ressuscitado: é Ele que vem.
A vitória não está nos poderes do mal. Está com Cristo. Por isso importa segui-lo e nos manter firmes nele.
Para o cristão que está firmado em Jesus Cristo e não nos poderes deste mundo, as tribulações são os sinais prenunciadores da libertação. Se somos dóceis ao Espírito, que renova a face da terra, os sofrimentos do tempo presente nos conduzem a libertação de Cristo.
Façamos que essa visão do Evangelho seja também a nossa. Que possamos ler os acontecimentos à luz da fé e da esperança em Cristo.
Este é o serviço, o ministério da Palavra. Fazer ressoar no coração dos fiéis a Palavra: misteriosa e consoladora, paradoxal e cheia de esperança; Palavra imolada no sacrifício da cruz e dada a nós em alimento na eucaristia.
Os eventos podem passar sem nos transformar. Para que ocorra a conversão, é preciso o ministério da Palavra: o Mistério faz com que não somente soframos as tribulações, mas que encontremos a Palavra em meio ao ruído e as palavras de morte.
Por Dom Julio Endi Akamine SAC
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