Comentário ao Evangelho – 25° Domingo do TC – B – 22/09/2024

25° Domingo do TC – B

Mc 9,30-37

No domingo passado, o Evangelho nos falou da cruz como marca e identidade do cristão: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la” (8,34-35). Como podemos notar a cruz reclama a ressurreição (perder a vida para salvá-la). Vivendo e enfrentando o sofrimento e a morte como Jesus, podemos ter esperança fundada de que viveremos com Ele.

No Evangelho de hoje, porém, Jesus aumenta mais a dureza de sua linguagem a tal ponto que parece muito difícil entendê-lo e segui-lo. A cruz não é somente um acontecimento de sofrimento e de morte que se abatem sobre nós, mas é um estilo de vida que nós devemos escolher. A cruz e o sofrimento não são somente eventualidades no nosso caminho, são o próprio caminho, são uma escolha de vida

Jesus está atravessando a Galileia e diz aos discípulos: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”. Eles, porém, não compreendiam o que Jesus lhes falava e ainda tinham medo de interrogá-lo. É como se a mente deles estivesse focada somente no desejo das ambições terrenas. Eles têm medo de interrogar Jesus porque intuem a resposta que não queriam ouvir.

Eles chegam a Cafarnaum e, em casa, Jesus lhes pergunta: “O que discutíeis pelo caminho?” Como resposta, Jesus recebeu um silêncio envergonhado, pois eles tinham discutido quem era o maior dentre eles. A discussão devia ter sido muito animada, mas, no momento de dar a resposta, a animação se transforma em silêncio e desconforto. Outra vez, mais do que entenderem claramente, os discípulos parecem intuir a “mancada que eles deram”.

Bastou a pergunta de Jesus, para os discípulos perceberem o quanto estavam longe do ensinamento e da vida do Mestre. Os discípulos caem na conta da distância que havia entre o que eles deviam aprender de Jesus e o que eles realmente viviam: ambição pelo primeiro lugar, soberba pessoal, competição com os outros, desejo de ser servido pelos inferiores. Perguntando, Jesus revela a soberba dos discípulos que consiste em querer o degrau mais alto na estima dos outros.

O que discutíeis pelo caminho?”, continua Jesus a perguntar a nós. Qual é o seu desejo? O que você quer de coração? O que você procura realmente? Isso que vemos em Cafarnaum, vemos repetir-se hoje em nossas comunidades e grupos. A pergunta de Jesus nos desmascara e “nos pega de calças curtas”. Provavelmente sentimos a mesma vergonha de quem é surpreendido com desejos e pensamentos inconfessáveis.

Jesus, porém, continua a ensinar. Ele desvia a atenção dos discípulos para fora do seu “ego” com gestos bem concretos. Em vez de fazer um discurso teórico, ele dá concretude ao seu ensinamento com gestos muito reais.

Pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: ‘Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou’. Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!

Prestemos atenção. O ensino de Jesus é concreto (pega a criança, coloca-a n meio deles, abraça-a), não é teórico nem abstrato. Ele põe a criança no centro; o centro não sou eu mesmo; o ego não está no centro, mas a criança. A atitude de Jesus é o de acolhida (abraça a criança) e não de julgamento e de condenação. Ele pede aos discípulos atenção, concentração (por isso Jesus sentou-se e chamou os doze).

Jesus não condena que busquemos a excelência, mas finaliza essa busca pela excelência, a orienta e lhe dá uma nova finalidade: ser perfeito como o Pai é perfeito; ser misericordioso como o Pai é misericordioso; se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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