Cogito, ergo sum?
Uma provocação
Descartes dizia: “Cogito, ergo sum.” (Penso, logo existo). — René Descartes
Para muitos, uma simples frase… Porém, essa frase e o sistema de pensamento que se originou dela, abriu um abismo em toda a história da filosofia e, consequentemente, na história do ocidente. Nesta simples frase, Descartes pressupõe que o pensamento é superior a realidade; ou seja, o que está na minha cabeça, os meus pensamentos, as minhas ideias, são superiores àquilo que a realidade me apresenta. Descartes afirmava que o pensamento era a base para que a pessoa pudesse conhecer as coisas, e não a própria realidade.
Descartes comete um erro de consequências catastróficas. Ele se divorcia da realidade, se separa, se desinstala dela. Será que não seria mais correto se ao invés de dizer: “Penso, logo existo”, disséssemos: “Existo, logo penso”. Pois se considerarmos a primeira afirmação, não nos esqueceríamos de que um dia fomos um feto e, que, portanto, existíamos mesmo antes de termos a capacidade de pensar? Esta afirmação não abriria espaço a uma espécie de eugenia?
O nosso solo seguro, estável, rígido e firme no qual pisamos é a realidade. Ela que é a nossa rainha, a nossa soberana; pois reconhecemos que ela estava aqui antes mesmo de termos chegado neste mundo. E sim, ela é mil vezes superior ao nosso pensamento. A realidade é a sede da Verdade.
Por não levar em conta o maravilhoso desenvolvimento filosófico escolástico que havia naquela época, Descartes acabou por criar algo novo, e infelizmente, esse algo novo parece ter sido um vírus que contaminou — e ainda contamina — todo o pensamento ocidental.
Schelling, grande filósofo alemão, constatou: “Na passagem da escolástica para a modernidade a filosofia caiu para um nível pueril.” — Schelling
Precisamos amar e aceitar docilmente a realidade, e não achar que nossos pensamentos são superiores a ela. Ela é soberana, nossos pensamentos não. Precisamos ter coragem de sair da caverna para poder contemplar o que antes, para nós, eram só sombras; e esse processo pode ser difícil no início. Ao sair de um local escuro e ter contato direto com o sol, os seus olhos podem arder, você pode ter tontura e até dor de cabeça, mas — sempre há um “mas” —, a beleza da realidade fora da caverna é indescritível.
A principal missão da filosofia é educar o estudante. A etimologia da palavra educar vem do latim ex (para fora) e ducere (conduzir), portanto, ao estudar filosofia o estudante precisa estar disposto a ser conduzido para fora. Ele precisa se dispor a sair da caverna, a sair de si mesmo e a olhar para a realidade tal qual ela é; pois, ele precisa entender que a Verdade é algo extrínseco a ele, e não intrínseco. Sendo assim, ele precisa querer ser conduzido para fora, ele precisa querer sair da caverna, isto é, saber que a verdadeira luz vem da realidade, vem da Verdade e não dele mesmo.
Por Pe Wagner L. Ruivo
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