Ecologia integral: juntos, cuidando da Igreja, dos povos e do meio ambiente
Padre Rodolfo Gasparini Morbiolo (Março, 2025)
Em 2025, o tema ecológico retorna à Campanha da Fraternidade, explicitamente manifestado. Em 2007, enfocou-se a Amazônia. Em 2011, falou-se das dores de parto da vida no Planeta. Em 2016, valorizou-se a Casa Comum do Papa Francisco ressaltada como responsabilidade de todos em “Laudato Sí”. Em 2017, os biomas brasileiros ao lado da defesa da vida, enfatizando o cuidado com a criação inteira. Apenas citando as temáticas diretamente relacionadas com o meio ambiente.
A expressão “ecologia integral” tem largo espaço de reflexão na Encíclica sobre o cuidado da Casa Comum (“Laudato Sí”, 137-162). Representa, antes de tudo, uma postura ativa de relacionamento com o meio ambiente que jamais exclui o ser humano, especialmente os mais pequeninos, necessitados e empobrecidos, radicados na espiritualidade realista e encarnada que brota do exemplo de São Francisco de Assis. Esta postura ativa de cuidado almeja uma nova harmonia de relacionamento, e pressupõe um horizonte de preocupações que valorizem o meio ambiente, a economia e a sociedade; o patrimônio cultural humano e sua vida cotidiana, bastante interessados no bem comum de todos, não apenas para o presente, mas em vista do futuro das novas gerações neste Mundo.
É inegável o sofrimento da criação inteira. As posturas utilitaristas e mercadológicas de relacionamento com a natureza, o modo invasivo e interventivo à vida do processo dito científico atual, a manipulação da vida inicial e seu caráter descartável na velhice. A proliferação das doenças, das epidemias, das pragas urbanas (mosquitos, ratos, cobras e escorpiões). As tormentas, tempestades, terremotos e incêndios. O desequilíbrio no fluxo contínuo das estações do ano. Isso tudo dá a impressão de que nunca na história da humanidade a vida ficou tão exposta à destruição, degradação e morte, como nos tempos atuais; não havendo refúgio seguro, nem isolamento do mal.
Há quem aposte em transformações tão profundas na humanidade sobre a Terra, muito próximas a ideia de uma nova extinção (Elizabeth Kolbert). Outros apostam na ideia de cooperação científica e tecnológica para que o ser humano não seja reduzido a um algoritmo de inteligência artificial (Yuval Harari). Outros estão a pensar um novo caminho complexo de cidadania planetária que devolva ao ser humano e à sua cultura a autonomia de gerar esperança por meio de processos promotores de superação de crises e da barbárie dos povos (Edgar Morin).
Como outrora, em agudos tempos de pandemia, o Papa Francisco se propôs ao socorro concreto dos necessitados, procurando transformar a dor dos que sofrem por meio da cultura do cuidado. Apontando na direção do amor universal que promove todas as pessoas. E que tem como fundamento o reconhecimento de quanto vale o ser humano em qualquer circunstância (“Fratelli Tutti”, 106-111).
E avança em seu ministério pontifício valorizando não apenas o chamado ao amor social, mas enfatizando a importância do amor político. Parafraseando Francisco: ajudar um idoso a atravessar um rio é um ato cristão de caridade, obra de misericórdia e amor social que expressa proximidade e compaixão, mas construir uma ponte para que este idoso (ou outros) não sofra mais este infortúnio gera amor político (“Fratelli Tutti”, 186). O amor político manifesta verdadeira preocupação universal; e um projeto de nova humanidade, por excelência (“Fratelli Tutti”, 66).
É também expressão de amor político o cuidado com a sociedade e suas instituições para seja garantido aos seres humanos do presente e do futuro um lugar sustentável para ser e existir; uma Casa Comum hospitaleira para cada pessoa e seus queridos, os povos e nações, e para com a expressões religiosas que buscam viver em paz entre si, nelas inclusas a Igreja Católica e as outras comunidades cristãs.
Assim, a noção de ecologia integral se nutre de pelo menos três outras noções ecológicas. Fazer ecologia significa cuidar das relações recíprocas entre o ser humano e seu meio (moral, social, econômico, natural). Por isso, faz-se necessária uma ecologia sinodal na Igreja (como refletida na Exortação apostólica “Evangelli Gaudium”); também uma ecologia integral na Casa Comum (refletida em “Laudato Sí” e “Laudate Deum”); finalmente, e não menos importante, uma ecologia das relações humanas entre si, inclusive das relações entre os homens e mulheres de religião, em vista da superação do abuso do sentimento religioso que é próprio do coração bem intencionado das pessoas de fé (refletida em “Fratelli Tutti”).
A meta de evangelização e missão proposta pela Campanha da Fraternidade 2025 é elevadíssima. Carrega a dignidade da proclamação do Evangelho a toda a criatura sobre a face da Terra. Convida ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso, pela superação da autorreferencialidade que fecha as pessoas em si mesmas incapacitando-as à cultura do encontro e à solidariedade, como advém do ensinamento contido na Parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37).