Diante da exposição de uma filmagem de um fato acontecido entre o mencionado Padre – da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, Nova Maringá e uma paroquiana, noiva – aconteceu a viralização do vídeo gravado pelo noivo e alguns amigos ou familiares. Isso tornou-se o assunto do momento, que na verdade, mostra muito mais sobre nós mesmos (sociedade) que fazemos um vídeo viralizar, do que propriamente sobre os envolvidos.
Estamos falando de uma moça noiva, ou seja, ainda não casada e um padre. Se olharmos à luz do Direito Penal (Código Penal Brasileiro), o adultério deixou de ser crime no Brasil desde 2005 (revogação do art. 240 pela Lei nº 11.106/2005). Hoje ele não tem qualquer implicação penal. Se estamos falando de duas pessoas adultas, com pleno consentimento, não há crime civil. Porém, por outro lado, o referido padre infringiu uma norma disciplinar da Igreja, prevista no Código de Direito canônico, cujas penalidades variam conforme a gravidade da infração e seguem gradações previstas pelo Código (cân.1395). Outro fato relacionado ao padre, se daria no fato de ter ou não permitido a entrada em sua casa das pessoas. Se eles invadiram, o padre teria que ter chamado a polícia, mas se os deixou entrar, agiu com covardia em relação à mulher, sendo conivente à sua exposição.
No entanto, o problema mais grave não é esse, é a questão de QUEM SE COLOCOU NO LUGAR DA MOÇA? Ela não só perdeu talvez um futuro casamento, mas o direito de ter sua honra preservada. A Constituição Federal (art. 5º, incisos V e X) fala que todos tem direito à reputação e à dignidade preservadas. A viralização da sua pessoa, pode trazer consequências seríssimas, como a destruição da sua dignidade, levá-la à depressão profunda ou até mesmo a perda de motivação de viver, diante do espetáculo a que foi submetida.
Infelizmente vivemos em uma sociedade em que a aparência substitui a realidade e em que tudo se transforma em imagem e consumo, como afirma Guy Debord, pensador marxista (A Sociedade do Espetáculo, 1967). Para essa sociedade, a moça exposta não importa. A maioria das pessoas fingem empatia e moralidade, mas se alimentam do escândalo, da humilhação alheia e da viralização. Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, enfatiza que a cultura do espetáculo cria relações frágeis e identidades voláteis.
Estamos vivendo um moralismo de fachada, em que valores e causas “nobres” são apenas bandeiras identitárias para obter reconhecimento social (engajamento), um verdadeiro farisaísmo digital, em que o mais importante é a autopromoção do seu ego e sua incapacidade de empatia verdadeira.
Precisamos converter-nos urgentemente e suplicar a Deus que nos cure dessa onda que nos arrasta na sociedade do espetáculo e do farisaísmo digital, para que recuperemos a sensibilidade humana diante das pessoas reais e não dos algoritmos.
Pe Marcos Ribeiro de Carvalho
Paróquia São João Batista e Imaculada Conceição.
Fotografia da revista LIFE, de J.R. Eyerman (1952), que serviu de capa para a primeira edição de ‘A sociedade do espetáculo’, de Guy Debord (Reprodução).