Dizia o grande Aquinate sobre a “amizade”: “Ora, a amizade de que se trata (a falsa amizade) faz os amigos buscarem o prazer mútuo e evitarem de se contristar, no dizer do Filósofo. Logo, tal amizade não é virtude.” Dizia ele também a este respeito: “Onde está a verdadeira amizade, aí está o mesmo querer e o mesmo não querer, tanto mais agradável, quanto mais sincero (…) Mas, às vezes, por conseguir um bem ou excluir algum mal, não evitará o virtuoso contristar aqueles com quem convive, como adverte o Filósofo. Por isso, diz o Apóstolo: “Ainda que vos tenha entristecido com a minha carta, não me arrependo disso.” (II Cor 7, 8).
Donde se conclui que nem sempre a harmonia é sinal de profundidade. Às vezes, é o confronto — quando nasce do amor e da verdade — que purifica a relação, como o fogo que refina o ouro. Uma amizade que sobrevive a uma discussão não apenas resiste, mas renasce mais autêntica.
A palavra dita com franqueza, ainda que doa, pode revelar o quanto nos importamos. Quando somos capazes de escutar o outro mesmo em meio à dor, e de pedir perdão ou perdoar, tocamos algo divino: a graça que une os corações pelo caminho da verdade.
Cristo mesmo, amigo dos seus discípulos, não se furtou de corrigi-los. Pedro foi chamado de “Satanás”, mas também de “pedra”. A amizade verdadeira suporta o estremecer das palavras porque confia no que está além delas: a certeza de que ali há amor, e não abandono!
Por isso, uma amizade que atravessa a tempestade do confronto sincero não sai ilesa, sai fortalecida! Como o ouro que resiste ao fogo, ela ressurge depurada, mais fiel à verdade que a sustenta. E, ao reencontrar-se após a dor, já não caminha na superfície dos afetos, mas nas profundezas de um amor provado — e, por isso mesmo, digno de confiança.
Pe. Wagner L. Ruivo




