Tempo do Advento, tempo de “esperançar”

O Advento é o tempo de preparação para celebrar o Natal e começa quatro domingos antes desta Solenidade. Além disso, este tempo marca o início do Novo Ano Litúrgico Católico, que neste ano de 2024 teve início em 1º de dezembro, Ano C, quando meditaremos com maior profundidade o Evangelho de São Lucas.

A palavra “Advento” vem do latim “adventus”, que significa “chegada”, “aproximação” ou “vinda”, e refere-se à chegada de Jesus, tanto por ocasião de seu Natal, quanto de sua vinda no fim dos tempos, no dia de nossa partida dessa vida, e em cada pessoa humana, conforme rezamos em um dos Prefácios do Advento.

O Tempo do Advento está dividido em duas partes: as duas primeiras semanas nos ajudam a meditar sobre a vinda final do Senhor no fim dos tempos; enquanto as outras duas nos ajudam a refletir sobre o nascimento de Jesus que se fez homem para nos salvar.

É costume que se acenda uma vela em cada domingo significando o espírito de vigilância e penitência que este tempo de preparação para o Natal requer.

Alguns personagens bíblicos nos ajudam a bem viver este tempo sagrado de espera. São eles:

O Profeta Isaías: O Profeta da Esperança! Todos os Profetas, de uma certa forma, anunciaram a Sua Vinda; mas, entre eles, Isaías se destaca como a figura ímpar do Antigo Testamento ao anunciar a vinda do Messias. Ele mostra, inclusive, quem será a Sua Mãe: “Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma Virgem conceberá e dará à luz um filho, e O chamará ‘Deus Conosco’” (Is 7,14). Descreve também como será o Messias no texto que meditaremos na Noite de Natal: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz. (…) porque um Menino nos nasceu, um Filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz. Seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino… (Is 9,5-7).” Isaías nos recorda a virtude teologal da esperança.

O Profeta Jeremias: Jeremias O anunciou com grande brilho: “Dias virão – oráculo do Senhor – em que farei brotar de Davi um rebento justo que será Rei e governará com sabedoria e exercerá na terra o direito e a equidade. Sob seu reinado será salvo Judá e viverá Israel em segurança. E eis o nome com que será chamado: Senhor-Nossa-Justiça!” (Jer 23,5-8). Jeremias nos recorda, dentre outras virtudes, a virtude da Justiça.

João Batista: João Batista é o grande precursor do Messias, a grande figura do Advento; aquele a quem Deus escolheu para preparar o povo para a Sua chegada: “Uma voz exclama: “Abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe, uma pista para nosso Deus. Que todo vale seja aterrado, que toda montanha e colina sejam abaixadas: que os cimos sejam aplainados, que as escarpas sejam niveladas!” (Is 40,3-4). Malaquias confirmou: “Vou mandar o meu mensageiro para preparar o meu caminho. E imediatamente virá ao seu Templo o Senhor que buscais, o anjo da aliança que desejais. Ei-lo que vem – diz o Senhor dos exércitos” (Mal 3,1). João Batista nos ensina a virtude da humildade quando nos recorda que o que importa é que Cristo cresça e nós diminuamos.

A Virgem Maria: Deus foi amado de maneira perfeita e com amor de Mãe por Maria Santíssima. No Novo Testamento, temos, antes de tudo, a figura da Virgem Maria, Aquela a quem Deus escolheu para ser a Mãe do Seu Filho. São Paulo o explica bem: “Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, que nasceu de uma Mulher e nasceu submetido a uma Lei, a fim de remir os que estavam sob a Lei, para que recebêssemos a sua adoção” (Gal 4,4-5). Maria O espera com amor de mãe e O recebe por obra do Espírito Santo: “O anjo disse-Lhe: “Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um Filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim” (Lc 1,30-33). Maria Santíssima é modelo de todas as virtudes e é com Ela que vivemos este tempo. Ela é a Rainha do Advento!

São José: São José é uma figura gigantesca no Advento. O homem escolhido por Deus para ser o pai putativo de Seu Filho. “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que n’Ela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o Seu povo de seus pecados (…). Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa” (Mt 1,20-21.24). Coube a São José dar o Nome a Jesus, cuidar de Sua Mãe, levá-Lo ao Templo e fugir para o Egito para livrar o Menino da morte. São José nos ensina, sobretudo neste tempo, a virtude da confiança em Deus e da obediência aos seus planos, mesmo quando não os compreendemos.

O Tempo do Advento é, portanto, o tempo por excelência da Esperança! Mas não do conceito mundano tão superficial de “esperança”. O filósofo Sergio Cortella fala de um neologismo muito interessante sobre este tema, cunhado por Paulo Freire: o verbo “esperançar” em contraposição ao verbo “esperar”. Assim, a diferença entre “esperar” e “esperançar” é profunda e reflete duas atitudes distintas diante da vida.

Esperar” seria uma atitude passiva. Aguardar que algo aconteça sem tomar iniciativa. É como ficar parado, esperando que as circunstâncias ou outras pessoas resolvam a situação. É delegar a responsabilidade das próprias escolhas a outrem e se acomodar diante da vida.

Ao passo que “esperançar” é uma atitude ativa e transformadora. Não se trata apenas de ter esperança, mas de agir com base nela. É a disposição para lutar, construir e buscar aquilo que se deseja, mesmo diante de dificuldades. “Esperançar” é se mover em direção ao que se acredita, com coragem e determinação, tornando-se protagonista da própria história.

Em resumo, “Esperar” é como ficar sentado à beira do caminho, aguardando que algo ou alguém traga a solução. “Esperançar” é levantar-se, arregaçar as mangas e começar a construir o caminho rumo ao objetivo, com fé e ação. O tempo do Advento, é, portanto, o tempo de uma espera ativa, pois quando esperamos alguém que amamos, tomamos atitudes e decisões para que essa chegada seja preparada com muita antecedência e da melhor forma possível e assim, o nosso amor seja manifesto nos mínimos detalhes dessa acolhida.

É justamente por isso que São Paulo nos diz: “4,1 Enfim, meus irmãos, eis o que vos pedimos e exortamos no Senhor Jesus: Aprendestes de nós como deveis viver para agradar a Deus, e já estais vivendo assim. Fazei progressos ainda maiores!” (1 Ts 4,1).

Sendo o Tempo do Advento um tempo de espera e preparação, quando somos preparados pela Mãe Igreja para celebrar o mistério do nascimento de Jesus Cristo – o Deus que se fez homem- tomemos consciência de que essa história não terminou: esperamos ainda a sua Segunda Vinda em glória, para julgar os vivos e os mortos. Aplainemos, portanto, as estradas de nosso coração, removamos com a graça de Deus, os obstáculos e excessos fazendo uma boa Confissão para que Jesus nos encontre despertos e vigilantes quando Ele vier! Amém!

Pe. Wagner Lopes Ruivo

Pároco da Paróquia São José Operário

 

 

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