Pecado contra o Espírito Santo

Uma afirmação de Jesus causou e continua causando espanto: “a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada” (Mt 12,31, cf. Mc 3,29, Lc 12,10). Quem a profere “é culpado de um pecado eterno”. Por que não será perdoada?

A blasfêmia contra o Espírito Santo consiste nisto: “a misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode levar à impenitência final e à perdição eterna” (CatIgCat, 1864).

Um jovem, porém, me fez uma pergunta mais complexa. “Se não existe uma hierarquia entre as três Pessoas Divinas, e, portanto, todas elas têm a mesma dignidade, por que a blasfêmia contra o Pai e o Filho será perdoada, mas não a blasfêmia contra o Espírito? Seria o Espírito Santo, nesse sentido, superior ao Pai e ao Filho?”

O mistério da Santíssima Trindade nos obriga a sempre manter juntas e relacionadas a unidade de natureza e a distinção das Pessoas Divinas. De fato, em Deus Uno não podemos admitir hierarquia, pois a Trindade é o único Deus. Por isso a blasfêmia contra uma das Pessoas significa blasfêmia contra Deus vivo e verdadeiro.

Ao mesmo tempo, porém, é preciso não perder de vista a Trindade das Pessoas, na qual cada uma se distingue realmente. Assim um pecado contra Deus atinge cada uma das Pessoas segundo a sua distinção pessoal: é um pecado contra a Pessoa naquilo que lhe é próprio. Jesus, de fato, afirmou: “todo pecado e toda blasfêmia serão perdoados, mas a blasfêmia conta o Espírito Santo não será perdoada. Mesmo se alguém falar uma palavra contra o Filho do Homem, isso lhe será perdoado, mas, se falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no mundo que há de vir” (Mt 12,31-32).

Toda graça, salvação e misericórdia provêm do Pai (fonte), por meio do Filho (mediador), no Espírito Santo (o próprio Dom, Pessoa-dom). A salvação da humanidade tem, portanto, sua origem no Pai, sua mediação no Filho, e seu agente primeiro no Espírito Santo.

O caminho da salvação, por outro lado, se dá pelo dom do Espírito Santo, que nos une ao Filho que nos conduz ao Pai. Assim blasfemar contra o Espírito Santo põe um obstáculo, já no seu início, ao oferecimento da misericórdia e, por isso, nos separa do Salvador e Mediador Cristo e da origem de toda graça que é o Pai. A blasfêmia contra o Espírito Santo não é perdoada não porque não atinja o Filho e o Pai (unidade divina), mas porque recusar deliberadamente acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento é rejeição do perdão dos pecados e da salvação oferecidos pelo Espírito Santo. Assim esse pecado é contra o Espírito Santo, porque a recusa em acolher a misericórdia divina é rejeição do Espírito Santo (distinção pessoal) e é também rejeição do Filho e do Pai (unidade divina).

Por que então a blasfêmia contra o Filho do Homem pode ser perdoada? “Filho do Homem” é o título que Jesus usou para se referir a si mesmo e, por isso, está ligado ao mistério da encarnação (inclusive da morte na cruz). Assim, os pecados cometidos contra o Filho do Homem são perdoados no sentido de que Cristo morreu na cruz pelos pecadores e que o Pai entregou seu Unigênito para que todos alcancem a salvação. Ninguém está excluído da morte salvadora de Cristo nem Adão, nem os que estavam na mansão dos mortos, tampouco os que blasfemavam contra Jesus pregado na cruz.

A salvação enquanto é oferecida por Deus consiste no perdão de todos os pecados. O pecado contra o Filho do Homem pode ser perdoado, no sentido de que a oferta salvadora nunca é retirada. Por outro lado, a salvação oferecida por Deus precisa ser acolhida pelo pecador. Como o caminho da salvação começa com o dom o Espírito Santo, o pecado contra o Espírito não pode ser perdoado, não porque Deus deixe de oferecer a salvação, mas porque o perdão é rejeitado pelo pecador.

Essa é uma tentativa para entrar no mistério inefável de Deus Salvador, Pai, Filho e Espírito Santo.

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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