O que é Cisma?

Na época patrística, era comum designar o cisma com a expressão “elevar altar contra altar”. Com efeito, o altar é o lugar e o sinal da unidade do sacrifício eucarístico, fonte visível de união com Cristo porque sobre ele e em torno dele a comunidade se reúne para celebrar a eucaristia. O altar, com a cátedra, é o lugar a partir do qual o bispo reúne, forma e ensina a Igreja que preside. Por isso o cisma é uma falta cometida contra o altar e o seu bispo.

No período escolástico, o conceito recebeu um desenvolvimento mais dogmático. Segundo a Summa Theologica de Santo Tomás de Aquino (II-II q. 39): “se chama cismático quem espontaneamente e intencionalmente se separa da unidade da Igreja. Há uma distinção entre heresia e cisma: “a heresia professa dogmas perversos, ao passo que o cisma separa da Igreja”; “a heresia se opõe essencialmente à fé; ao passo que o cisma, à unidade da caridade eclesiástica”. Isso não significa que não haja relação entre esses pecados: “como a fé e a caridade são virtudes diversas, embora quem não tem fé também não tem caridade, assim, o cisma e a heresia são vícios diversos, embora todo herético também seja cismático, mas não inversamente”. “E contudo, assim como a perda da caridade é caminho para a da fé, assim também o cisma é caminho para a heresia”.

O Catecismo da Igreja Católica define brevemente cisma como “a recusa de sujeição ao Sumo Pontífice ou da comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos” (2089).

A Igreja procede da comunhão trinitária e caminha para ela. Vista a partir de seu princípio, pátria e protótipo trinitário, a unidade eclesial não pode ser entendida como uniformidade monolítica que se impõe anulando a diversidade. A divina koinonia (comunhão) do Pai, do Filho e do Espírito qualifica a unidade eclesial como unidade na diversidade e diversidade na unidade. Nesse sentido vale para a unidade eclesial o que se realiza na Trindade: quanto mais elevado é o ser, mais a sua unidade é diferenciada.

Por outro lado, não devemos esquecer que a Igreja é uma comunhão de fiéis e não de pessoas divinas. Assim as iniciativas são de pessoas finitas, as percepções são limitadas, fragmentárias, sucessivas e progressivas. Por isso os fiéis necessitam ser integrados e completados por outros. É isso que acontece quando as tendências diversas se desenvolvem em uma unidade que as contém e impede que decaiam em particularismos inconciliáveis.

Além disso, os membros da Igreja não são somente limitados, mas também pecadores. Os projetos que portam e os recursos que operam, em vez de ser contidos em um todo, compensados e equilibrados por outros valores, podem seguir a lógica da diferenciação, da oposição e da divergência.

De fato, muitas tendências, que hoje aparecem como inconciliáveis, coexistiam na Igreja enquanto compreendidas na unidade e vividas na comunhão. Elas apareciam simplesmente como diversidade, contraste e riqueza. Desenvolvidas de maneira autárquica, egoísta, sem referência à unidade se desviaram em cismas. Foi o que aconteceu, por exemplo, com os gnósticos e os montanistas. A Igreja continha em si todas as verdades cristãs dessas duas heresias. O que as tornou cismáticas, porém, não se encontrava reunido na unidade da Igreja, de outra forma não teriam se separado.

As causas históricas de um cisma podem ser: disposições pessoais, influências econômicas e sociais, rivalidade de sedes, disputas em matéria litúrgica, problemas de disciplina e ideal puritano de alguns. Entre essas causas, a mais tristemente comum é o nacionalismo.

Outra causa dos cismas é, conforme os padres da Igreja, o orgulho. Uma pessoa crê e quer ter razão contra os outros e contra a autoridade. Nesse sentido, a rigidez de uma autoridade que não quer escutar foi muitas vezes, também ela, causa de cismas. Felizmente, em várias ocasiões, as reações da autoridade foram mitigadas e até mesmo evitadas para não provocar um cisma, seguindo um princípio tradicional de caridade e de prudência pastoral. Nas grandes crises dogmáticas dos sécs. IV e V, os mais lúcidos e mais corajosos defensores da ortodoxia fizeram concessões sobre as fórmulas, quando o acordo na substância tinha sido alcançado ( por exemplo, na doutrina trinitária: Atanásio, Hilário, Basílio; em cristologia: Cirilo de Alexandria). Agostinho recordava incansavelmente aos donatistas o exemplo do grande bispo Cipriano que tinha sabido permanecer um homem de unidade e não tinha querido romper a comunhão com aqueles cuja má conduta criticava.

Nesse sentido, é admirável a caridade, a prudência pastoral e a magnanimidade do Papa Francisco. Muitos grupos com pensamento sectário têm surgido ultimamente, atacando e acusando injustamente o Papa de heresia e falsidade. Mesmo assim, ele não tem distribuído declarações de excomunhão de maneira imprudente.

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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