Nossa Senhora é uma só, mas seus títulos são muitos. A Igreja e os cristãos, ao longo de séculos de devoção e de piedade, criaram e atribuíram a Maria muitíssimas denominações para poder honrá-la e enaltecê-la. Os títulos são fruto do amor que a Igreja consagra a Maria; são expressões ternas da afeição do povo cristão; consistem em invenções originadas mais do coração do que da razão. De fato, é próprio de quem ama multiplicar os nomes para externar sua confiança e entrega, sua gratidão e admiração, suas dores e alegrias, sua dedicação e devotamento.
Um bom exemplo dessa multiplicação cordial de nomes pode ser encontrado na ladainha de Nossa Senhora, recitada normalmente depois da oração do rosário. Nela os cristãos invocam Maria como a Mãe que gera, acolhe e cuida; como a Rainha que protege e governa; como a Virgem que atrai e seduz pela sua beleza; como a Senhora que suscita o repeito e a homenagem do coração; como o Refúgio sob o qual buscamos proteção, consolo e cura. Em nossa Arquidiocese, Maria é invocada com Nossa Senhora da Ponte: nela louvamos o único Mediador entre Deus e a humanidade que é Cristo, reconhecendo que a única mediação do Salvador não anula, antes suscita e sustenta as mediações secundárias e subordinadas da graça. Assim como Maria, recebemos a graça não só para nós mesmos, mas sobretudo para os outros.
Os títulos de Maria são simplesmente inventados pela devoção dos cristãos? É possível encontrar na Bíblia títulos dados pelo próprio Deus a Maria?
Ao lermos a Bíblia, descobrimos que também Deus honrou Maria de Nazaré com muitos títulos. Já nas primeiras páginas do Evangelho de Lucas podemos descobrir alguns deles. O anjo Gabriel chama Maria de “Cheia de Graça” (Lc 1,29) e anuncia-lhe que ela será “Mãe de Jesus” (Lc 1,31), “Mãe do Filho do Altíssimo” (Lc 1,32); “Mãe do Filho de Deus” (Lc 1,35). O anjo ainda comunica a José em sonho que Maria será a “Mãe do Emanuel” (que significa: Deus conosco; Mt 1,23).
Isabel, inspirada pelo Espírito Santo, a honra com o título de “Bendita entre as mulheres” (Lc 1,42) e de “Mãe do meu Senhor” (Lc 1,43); reconhece a prima Maria como a “Bem-aventurada na fé” (Lc 1,45). Simeão profetiza que Maria será a “Transpassada por uma espada” (Lc 2,35).
Maria de Nazaré, por sua vez, se reconhece como a “Serva do Senhor” (Lc 1,38), como a “Pobre serva” que o Senhor olhou (Lc 1,48). Ela exulta pelas maravilhas que Deus realiza nela, o que fará com que todos a chamem de “Bem-aventurada” (Lc 2,48).
Também Jesus não deixou de atribuir à sua mãe títulos significativos. Em Caná e na Cruz, Jesus a chama de “Mulher”: o Novo Adão proclama a Nova Eva, Mãe da nova geração não mais nascida da carne, mas do alto e do Espírito (Jo 2,4; 19,26; cf. 3,3-8). Vendo sua mãe e o discípulo amado junto à cruz, Jesus entrega a Maria quem ele ama: “Mulher, eis o teu filho”. Recomenda ao discípulo amado que a honre como própria mãe: “Eis tua mãe”. Tendo nascido do lado aberto de Jesus, a Igreja se identifica com o discípulo amado e leva a sua mãe para sua casa (Jo 19,27).
Os muitos títulos de Maria são o modo cordial e afetivo de se aproximar do Mistério da Salvação: tendo enviado seu Filho ao mundo, este nasceu de mulher para nos dar a graça da filiação adotiva e para derramar o Espírito em nossos corações (cf. Gl 4,4-7). A invocação dos títulos de Maria nada mais é do que a comunhão nos louvores que ela mesma faz aos prodígios que Deus cumpriu em favor de seu povo.
Diante de Maria se calam os raciocínios e a argumentação da mente para dar lugar à poesia e ao canto do devoto. Por isso, para concluir esse artigo sobre os títulos de Maria, deixemos que eles nos conduzam em nossa devoção.
Virgem Mãe, filha do teu Filho,
humilde e alta mais que a criatura,
termo fixo do eterno conselho.
Tu és aquela que a humana criatura
enobreceste tanto, que o seu Criador
não desdenhou fazer-se sua feitura.
No ventre teu se reacendeu o amor,
por cujo calor, na eterna paz,
assim germinou esta flor.
Aqui, és para nós luminoso semblante
de caridade, e lá embaixo, entre os mortais,
és de esperança vivaz nascente.
Mulher, és tão grande e tanto favor gozas,
que quem quer graça e a ti não recorre,
seu desejo quer voar sem asas.
A tua benignidade não só socorre
a quem pede, mas muitas vezes
se antecipa a quem a ti recorre.
Em ti misericórdia, em ti piedade,
em ti magnificência, em ti se encerra
tudo o que na criatura há de bondade.
(Dante ALEGHIERI, Paraíso, Canto XXXIII,1-7)
Por Dom Julio Endi Akamine SAC
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