Vamos descansar um pouco!

Durante estas férias, encontrei-me com um antigo colega de seminário. Ele me ensinou algo precioso sobre o descanso em Deus e que partilho com os leitores.

Antes do avião decolar, os comissários de bordo sempre dão várias instruções para eventuais emergências que podem ocorrer. Só prestei atenção a essas instruções em minha primeira viagem. Uma delas me chamou muita a atenção: quando há despressurização da cabine, máscaras caem automaticamente diante de cada passageiro. Cada um deve primeiro colocar a máscara em si, e só depois ajudar outros, comumente idosos e crianças, a colocar a máscara. Parece egoísmo colocar a máscara e só depois ajudar outros que não são capazes de fazê-lo por si só. Na verdade, não é egoísmo e sim autêntico altruísmo: só podemos ajudar outros de verdade se estivermos conscientes.

O descanso em Deus é um ato de humildade. Eu não sou o salvador, mas posso colaborar na salvação dos outros. Só vou colaborar na salvação dos outros, porém, se eu tiver a lucidez humilde de reconhecer que eu – como os outros ou mais do que outros – preciso do Salvador. Só poderei realmente auxiliar os outros se reconhecer que dependo absolutamente do respiro do Espírito. É insensatez e arrogância, achar que não preciso do hálito de Deus e que só os outros precisem dele.

Jesus ensinou os seus apóstolos a descansar em Deus. Em Mc 6,30-34, lemos o episódio em que os Doze Apóstolos retornam da missão dada por Jesus. Eles tinham sido enviados para pregar a conversão, expulsar os demônios e curar os doentes. Voltando da missão, eles prestam contas de tudo o que tinham feito e ensinado. Podemos imaginar a alegria dos apóstolos em poder apresentar a Jesus um belo relatório de tudo o que fizeram, a excitação deles ao mostrarem como a colaboração deles era importante para a missão evangelizadora. Podemos até mesmo imaginar que eles já se sentissem “colaboradores indispensáveis” para Jesus.

Nesse sentido, é significativa a reação de Jesus ante o belo relatório que os apóstolos lhe entregam: em vez de mandar os Doze “baixarem a bola”, convida-os a se retirarem junto com Ele a um lugar deserto para descansar um pouco! De fato, o evangelista observa que eram tantos que os procuravam que não tinham sequer tempo para comer.

O convite que Jesus faz ao descanso tem uma finalidade pedagógica. O descanso com Jesus não é meramente funcional. Trata-se de um afastamento do trabalho – “ir a um lugar deserto” – para pôr em prática o comportamento indicado nas parábolas do Reino, de modo especial da parábola da semente que cresce sozinha e segundo o seu ritmo. Descansar nesse sentido, significa assumir o comportamento da confiança na ação de Deus, da humildade de quem não se considera “indispensável”, da paciência de quem sabe que os frutos dependem de Deus e não do nosso ativismo.

Temos grande necessidade de escutar e de aceitar o convite de Jesus: “Vinde, vós sozinhos, para um lugar deserto e descansai um pouco”.

 

Por Dom Julio Endi Akamine, SAC

 

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