Santificada e Santa

É preciso primeiramente reconhecer que Deus realiza a santificação do seu povo por Jesus Cristo e pelo Espírito (2Ts 2,13; Ef 1,4; 1Cor 6,11). Essa santificação tem por autores, o Pai que envia o Filho e o Espírito no mundo. A santidade decorre da união do cristão com Cristo através da fé, do batismo e do dom do Espírito derramado nos corações. Aliás, a “unção vinda do Santo” torna os cristãos participantes da vida do Cristo ressuscitado (cf. 1Cor 1,30; Ef 5,26; 1Jo 2,20). Pela presença do Espírito Santo, que santifica os fiéis, os cristãos são “santos em Cristo” (1Cor 1,2; Fl 1,1).

O Espírito Santo santifica através de Seus dons e carismas, que são dados conforme seu beneplácito em favor de toda a comunidade. Assim o Espírito santifica não só os indivíduos, mas a Igreja como um todo. Essa efusão do Espírito não está mais limitada pelas fronteiras das relações de sangue e de etnia, mas é um dom universal. Com o Pentecostes se realizou a profecia: “Sucederá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei o meu Espírito sobre toda carne” (cf. At 2,16-18; Jl 3,1-5).

A Igreja é santa no sentido de que foi santificada por Deus que comunica a sua santidade elegendo e convocando a Igreja e chamando os seus membros. A Igreja possui a santidade enquanto causada e doada pelo Pai em Cristo no Espírito. Como se trata de um dom que exige uma aceitação, a santidade de Deus se comunica para ser santidade da Igreja. Como Deus opera a salvação, inserindo os seus dons no mais profundo de suas criaturas, assim a santidade não é uma qualidade que reveste a Igreja como uma roupa, mas uma graça que transforma o mais profundo do seu ser. Por isso, a Igreja é santa também em senso ativo: ela procura viver de acordo com as exigências da nova vida que lhe foi dada.

Para o NT, a santidade da Igreja é um fato óbvio da vida cristã. Ser cristão e ser santo são sinônimos e indicam a mesma condição dos membros da Igreja. Essa consciência aflora em muitíssimas passagens do NT, principalmente naquelas em que os fiéis da Igreja são simplesmente chamados de “santos”: At 9,13.32.41; 26,10; Rm 1,7; 8,27; 12,13; 15,25s.31; 16,2.15; 1Cor 1,2; 6,1s; 14,33; 16,1.15; 2Cor 1,1; 8,4; 9,1s; 13,12; Ef 1,15; 3,18; 4,12; Fl 4,21s; Cl 1,4; 1Tm 5,10; Fm 5.7; Hb 6,10; 13,24; Jd 3.

A santidade da Igreja é uma santidade solidária e corresponsável, pois se dá na “comunhão dos santos”, na qual os fortes carregam os fracos, e os santos, os pecadores. Os fiéis exercem assim uma espécie de maternidade santa: toda a vida da Igreja, todos os carismas de todos os fiéis, a vida teologal de fé, de esperança e de caridade, todas as formas de serviço, de liturgia, de diaconia, de ensino, de profetismo etc., são um gerar e educar para a santidade. A Igreja é santa não só como instrumento de santificação, com a assim chamada santidade objetiva de suas instituições sacramentais, mas também como a Igreja dos santos, de homens convertidos ou em processo de conversão.

A Igreja é santa porque sua cabeça, Cristo, é santo e porque é santificada pelo Espírito. A fonte da santidade da Igreja é o Pai que a santifica em Cristo pelo Espírito. Essa santidade ontológica da Igreja tem de se manifestar como santidade moral na conduta dos cristãos; à santidade “objetiva” da Igreja deve corresponder a santidade “subjetiva”, que é uma santidade “recebida” como dom de Deus, mas que tem de ser praticada vivendo a vida de cada dia segundo o Evangelho.

Exatamente porque é santa (porque santificada e porque corresponde a esse dom) a Igreja é Igreja dos pecadores. Assim as afirmações: “Todos nós tropeçamos frequentemente” (Tg 3,2) e “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós” (1Jo 1,8) não indicam complacência com o pecado. Exatamente o contrário: os pecadores não se conformam ao pecado e buscam a conversão e o perdão. Nesse sentido, também a Igreja necessita sempre de conversão e de perdão.

Desde o seu início, a Igreja teve consciência de ser Igreja dos pecadores e de que seus membros não tinham o mesmo grau de maturidade e de crescimento na fé. Manifestou essa consciência reconhecendo-se como a “lavoura de Deus” onde o joio e o trigo estão misturados (Mt 13,24-30), como a rede que recolhe peixes bons e ruins (Mt 13,47-50). A separação só acontecerá no fim dos tempos (Mt 25,31-41).

 

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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