O Tempo Quaresma que começa com a Celebração das Cinzas, nesta quarta-feira após o Carnaval, é tempo de verdadeira penitência cristã, isto é, tempo de manifestar através de gestos concretos o nosso desejo de união com Cristo e sua obra redentora que celebraremos na Páscoa. A Cruz não envergonha o Cristão, antes o ensina sobre o caminho da humildade, muito semelhante à atitude do leproso do Evangelho quando disse a Jesus: “se queres, podes limpar-me”.
Esta atitude de fé, precisa ser a alma de todas as práticas penitenciais da Quaresma; sejam elas as tradicionais: esmola, oração e jejum; sejam outras definidas pela consciência de cada cristão-católico. De um modo ou de outro, nos aproximamos do Deus Vivo e Verdadeiro na Pessoa de seu Filho Único Jesus Cristo Nosso Senhor, para pedir com humildade que cure o nosso coração, nossa alma, nossa vida, das feridas do pecado. E das feridas, ou marcas que o pecado deixou em nossa natureza; a mais profunda certamente é nossa inclinação para o mal, contra a qual muitas vezes não treinamos nossa vontade de dizer não, e renunciá-la. O Tempo da Quaresma é treino de vontade de renúncia. É tempo de exercitar o seguimento de Jesus, sua busca sincera. É tempo de escutar a pregação da Cruz, sem recusá-la. É tempo de se colocar diante do mistério do amor de Deus que Se revela.
O Dia das Cinzas é todo ele penitencial, como também a Sexta-feira Santa o será. Dia de abstinência de carne vermelha em memória da Paixão do Senhor, e como imagem da realidade de violência que gera a morte e que infesta nossa natureza humana, como inclinação ao mal, herança do pecado original. Como nos recorda Isaías, Jesus será levado ao matadouro e sua carne, sua vida, seu corpo, será esmagado pelo sofrimento. Ao recusar-nos a comer carne vermelha neste dia, recusamo-nos também à violência causada pelo pecado que faz sofrer a criação bendita de Deus e destrói a vida. Além disso, treinamos nossos sentidos para acolher o verdadeiro alimento que carrega a Vida, que não é carne dos animais – já abolida como sacrífico pela chegada de Jesus, mas o Corpo e o Sangue do Senhor, entregues em Eucaristia, que nos será oferecido.
Os Ramos abençoados no ano anterior, transformados em Cinzas, que serão impostas sobre nossas cabeças são um sinal de nossa pequenez sem Deus. Poderiam guiar-nos aqui as palavras do Salmo 50, quando afirmam: Senhor, o que sobraria de nós, se retirásseis vosso Espírito que sustenta nossa vida? Na verdade, se Deus o fizesse, nos tornaríamos menos que o pó, que as cinzas. É um sinal do desejo de conversão, transformado em gesto litúrgico.
A Quaresma virá como um tempo de silêncio interior, também refletido na liturgia. Cessa a Igreja de entoar o Glória, que canta os louvores da Encanação do Filho de Deus, e o Aleluia, que celebra a vitória de Cristo sobre a morte. Ambos retornarão na Vigília Pascal na Solene Liturgia. Até lá, os cristãos-católicos são chamados a conservar na liturgia e na vida uma verdadeira simplicidade como reflexo de um espírito contrito e humilhado, e da luta para desprender-se das coisas deste mundo que nos separam de Deus. As Igrejas podem, se assim o desejarem, cobrir as imagens. As flores devem ser retiradas da decoração dos presbitérios. A cor roxa mais intensa é marca definitiva deste Tempo penitencial. E a Via-Sacra uma prática litúrgica bela e venerável.
Por último ainda, no Brasil, celebra-se a Campanha da Fraternidade como apelo a sair de si mesmo e ir ao encontro das necessidades sociais de todo ser humano, que terá como tema este ano “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e o lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34).
Rezo para que sua Quaresma seja um tempo de recolhimento, oração e serviço.
Padre Rodolfo Gasparini Morbiolo
Paróquia Nossa Senhora Aparecida – Vila Angélica – Sorocaba/SP.