O SILÊNCIO É DE OURO

Sempre amei São José e me perguntei por que não diz nem mesmo uma palavra, nem um bom dia? Será que não era mudo? Ou fechado em si mesmo?

O ano de São José, declarado pelo Papa Francisco, tem muito a nos ensinar, sobre tudo, o valor do silêncio, visto que, em nossos dias estamos fortemente marcados pelas imagens e muitas palavras vazias; somente quando todas as outras vozes se calarem, ouviremos a única que nos interessa. A Palavra que é a salvação para mundo. Que foi amado com amor de Pai por São José. Palavra Eterna, feita carne. Que só com silencio profundo de coração poderemos ouvir.

Cada palavra introduz no mundo um suplemento dificilmente governável, uma energia que muda a ordem das coisas, mas deixa o homem privado de toda capacidade de controle sobre as suas consequências. Por esse motivo, é melhor pensar duas vezes antes de nos abandonarmos à palavra.

E São José tinha isso em seu coração muito vivo, por isso não era de tantas palavras.

A Bíblia nos ensina muitas vezes a virtude do silêncio: o livro do Eclesiastes nos recorda que “existe um tempo para falar e um tempo para calar” (3, 7). Mais adiante ele exorta o fiel “Que o teu coração não se apresse em proferir uma palavra diante de Deus, porque Deus está no céu e tu estas na terra, assim que as tuas palavras sejam pouco numerosas” (5, 1-2).

São José vivia plenamente a Palavra de Deus.

O saber-dizer implica um saber-calar, um conhecimento agudo dos poderes de uma linguagem da qual convém fazer melhor uso possível para a comunidade. Em numerosas culturas africanas, a palavra é um lugar de força e de vulnerabilidade, ela manifesta um poder sobre o mundo, mas também é susceptível de abrir uma brecha, de abandonar o indivíduo à nefasta de um outro. A palavra pode matar e tornar doente, provocar o ciúme, gerar o azar, etc.

São José calado nos ensina sobre Deus.

A preocupação pelo silêncio e pelo segredo se enraíza, portanto na ambivalência que marca a experiência da palavra: ele traduz a necessidade de proteger o outro. Muitas vezes se associa o controle sobre a palavra, a capacidade de fazer silêncio, ao autodomínio. Respeitando esse principio, é preciso de todo modo encontrar equilíbrio justo entre o silêncio de ouro e palavra de prata, porque os dois são indispensáveis.

O silencio de São José é uma palavra forte sobre autodomínio.

Palavra e silêncio são somente meios. Cala-se para escutar a palavra que Deus sussurra e para responder às suas exigências de amor. Como a palavra caracteriza o homem, o silêncio, que é característico de Deus, é uma das tantas mediações para comunicar com ele e falar dele.

São José em silêncio comunica-se com Deus e comunica-nos a sua presença.

Ao místico lhe é pedido para participar ao silêncio de Deus e à sua palavra, por meio do único grande mediador que é Cristo, Palavra viva de Deus Pai, próprio porque ele se apresenta na cena da história antes como silêncio absoluto, depois se exprime em uma palavra criadora: “E Deus disse…” (Gn 1, 2), depois reveladora: “Deus cala, pacientemente, reservando a Israel o privilegio da salvação”. Chegado a hora ele se manifesta a Abraão, depois à sua descendência.  Quando chega a plenitude dos tempos, Deus mandou seu Filho, nascido de mulher (Gl 4,4) e o seu Verbo se faz homem, para poder-se dar a ele com uma linguagem humana.

No silêncio de São José, Deus diz uma Palavra: Jesus Cristo.

Deus, portanto, exprime-se na sua Palavra, feita carne por nós para depois retornar ao silêncio e arrastar o homem por meio de seu Espírito. Por uma parte, as suas palavras e ações, intrinsecamente unidas (cf DV 2), revelam e comunicam a identidade; por outra, os seus silêncios mostram a via, que a humanidade de Cristo, com a qual podemos alcançar a comunhão com o Pai. Aqui reside todo o significado teológico-espiritual dos silêncios de São José e também os de Cristo revelador dos mistérios do seu silêncio.

Os místicos de todos os tempos quiseram imitar nas suas vidas os silêncios e as palavras de Cristo. Quiseram seguir Jesus de Nazaré desde o momento em que “vivendo no seio de sua mãe é como se não o existisse: o Onipotente é inativo e cala a Palavra eterna”, até o momento em na Cruz, o Filho do homem, depois de ter experimentado ao extremo o abandono do Pai, se confiará a ELE completamente: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46). Entre o silêncio do infans, isto é, daquele que ainda não pode falar e aquele de quem esta morrendo, nesse próprio instante se supera a palavra para entrar no silêncio de Deus.

Aqui se calam as necessidades de São José, para que se reforce o desejo da união com Deus.

Por que São José não fala? Mas parece que entendi o seu silêncio que é: escuta amorosa, não interfere, não dá pareceres, não discute. Conhece a sua missão, executa, é discreto. Protege! Permanece na sombra, dá espaço a Maria e Jesus. Medita e reza, trabalha, é delicado o seu silêncio é comunicação.

Quero aprender este silencio, peço a São José que o ensine a todos nós, à Igreja, ao mundo. Um silencio assim, não incomoda, não agride não divide. Cria comunicação, dá paz, cura as feridas. Obrigado São José pelo teu silencio.

Pe Samuel Soares 

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