O que é a Bíblia?

Etimologicamente a palavra “Bíblia” significa “conjunto de livros”. A Bíblia é um conjunto de escritos, mas não de qualquer tipo: somente os que são inspirados pelo Espírito Santo estão presentes nessa biblioteca que é a Bíblia.

A Bíblia é a Palavra de Deus? Evidentemente que sim. É importante, porém, que fique claro que a expressão “Palavra de Deus” não indica primeiramente a palavra escrita, mas o evento da revelação. Ora, esse acontecimento admirável de Deus, que vem ao encontro do homem para lhe falar como a um amigo e para convidá-lo à comunhão divina, tem a sua plenitude em Cristo.

Sem o evento da revelação, o cristianismo seria reduzido a uma religião em que Deus estaria longe e não se importaria com os seres humanos. Ele poderia ser conhecido, mas não se revelaria como Pessoa; não amaria nem poderia ser amado. Assim o Infinito e o Eterno não preencheria o abismo do coração humano: “um abismo que chama outro abismo” (Sl 42). Sem a revelação divina, Deus seria como a lua: estaria lá no céu, mas não aqui na terra; controlaria as marés da vida, mas não teria relação pessoal conosco; existiria, mas não haveria encontro face a face. Sem a Palavra revelada, se abriria a triste possibilidade de crer de coração em Deus e, ao mesmo tempo, se desesperar. A revelação divina é, de fato, uma grande felicidade.

A felicidade do evento da revelação, porém, não se impõe nem acontece mecanicamente. A oferta da revelação divina reclama a livre acolhida de fé. A fé é como o sorriso de acolhida do ser humano ao Deus que se revela.

É preciso levar em conta que, para que haja escuta não basta só alguém que fala, mas é necessário também um outro que ouça. Infelizmente nem sempre a Palavra encontra ouvidos abertos. Nesse sentido “a Palavra revela inevitavelmente a dramática possibilidade que tem a liberdade do homem de se subtrair ao diálogo com Deus. A Palavra desvenda o pecado que habita no coração do homem. Com efeito, a Sagrada Escritura nos mostra como o pecado do homem é essencialmente desobediência e não-escuta” (VD 26).

Jesus, em sua obediência radical ao Pai, nos curou de nossa surdez patológica e pecaminosa. Ele é a Palavra que ressoa nos ouvidos do coração e é, ao mesmo tempo, Aquele que ouve e acolhe a vontade do Pai para cumpri-la até o fim. Assim, quando falamos de “Palavra de Deus”, é preciso pensar primeiramente não num texto, mas em uma pessoa, ou seja, em Cristo que é a plenitude da revelação divina (cf. DV 2) e o aperfeiçoador de nossa fé.

O cristianismo é a religião da Palavra de Deus, não de uma palavra escrita e muda (cf. VD 7). Cristo é o princípio da unidade de toda a Sagrada Escritura porque, nas suas palavras escritas, ressoa a única Palavra de Deus. Essa presença da Palavra nas palavras escritas da Bíblia é o motivo da veneração e do respeito que a Igreja tem pela Bíblia. Nós veneramos a Bíblia porque a plenitude da revelação, que é Jesus Cristo, pode ser descoberta por nós pela mediação da Escritura. Assim todo esforço que fazemos para conhecer a Sagrada Escritura está finalizado a conhecer o próprio Cristo. Conhecer a Bíblia é, de fato, conhecer Cristo.

Como é possível que um escrito nos abra o acesso à pessoa de Cristo? Como é possível que um texto escrito nos ponha em contato pessoal com Ele? Isso só é possível porque foi o Espírito Santo que inspirou a Escritura. É a inspiração divina que faz com que a Escritura tenha duas características: ela é normativa e sagrada. É normativa, porque a Igreja recebe dos livros divinamente inspirados a sua regra de vida. Na Escritura Sagrada, a Igreja recebe a orientação segura e clara de como Deus deseja que nós vivamos e nos comportemos tanto como indivíduos quanto como comunidade. Ela tem caráter sagrado exatamente porque escrita por inspiração do Espírito Santo. Por isso nós a chamamos de Sagrada Escritura.

 

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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