Mãe ou Mulher?

Fábio Rogério (JCS 2/01/2022)

A Romaria de Aparecidinha revela a grande devoção dos fiéis a Maria. É oportuna uma reflexão sobre os fundamentos bíblicos do grande amor que os católicos têm por Maria. Nesse sentido, convido os leitores e leitoras a concentrar a atenção em duas perícopes do Evangelho segundo João: 2,1-12; 19,25-27.

Depois de ter cedido aos seus algozes as suas vestes, Jesus, na cruz, cedeu à humanidade aquela que teceu a sua túnica inconsútil. Nosso Senhor olhou para as pessoas mais amadas: Maria e o discípulo predileto. Ele falou primeiro à sua mãe: “Mulher, eis o teu filho”. Mais uma vez, não a chamou de “mãe”, mas de “mulher” (cf. 2,4). Por que?

Se Jesus tivesse chamado Maria de “mãe”, esta teria permanecido somente sua e de mais ninguém. Para indicar que ela tem, a partir da cruz, um vínculo estreitíssimo e definitivo com toda a humanidade, Jesus a chamou de “mulher”, assim como Adão, no princípio, chamou sua “mulher Eva, por ser a mãe de todos os que vivem” (cf. Gn 2,23; 3,20). Para indicar que Maria estava se tornando a mãe de todos os seres humanos salvos pelo seu sacrifício, Jesus concedeu a Maria o título da maternidade universal: “mulher”.

Depois, Jesus se dirigiu ao discípulo amado e acrescentou: “eis tua mãe”. Ele não o chamou pelo seu nome próprio (João), pois deixando-o sem nome, este pode representar toda a humanidade que deve assumir Maria por mãe.

Era como se Jesus dissesse a Maria: “Tu já me tens como Filho, e não podes ter outros, mas todos os outros filhos estão unidos a mim como os ramos estão na videira. João é um em mim, e Eu nele, como o Pai e eu somos um. Não te estou dizendo: Tens aí outro filho! Ao contrário: Eis-me em João e João em mim. Nós somos um. Recebe-me nele”. Esse foi o testamento de Jesus para todos nós.

Na última ceia, Ele tinha deixado em testamento: Isto é o meu corpo dado por vós. Este é o meu sangue derramado por vós! Agora, na cruz, Jesus nos deixa em testamento Sua mãe: eis tua mãe!

Jesus estabeleceu uma nova relação pela qual sua própria mãe se tornou mãe de todo o gênero humano e na qual todos nós nos tornamos filhos no Filho Jesus. A partir da cruz, temos como nossa a Mãe de Jesus.

Esse novo vínculo não é carnal, e sim espiritual. O sangue é mais espesso do que a água, por isso o sangue une mais do que a água. O Espírito, porém, é mais poderoso do que o sangue, por isso, o Espírito nos une a Maria e a Jesus mais do que o sangue.

Maria enxergou Deus em Jesus; agora o Filho estava dizendo para ela enxergar Cristo em todos nós. Maria nunca amou nem amará ninguém mais do que ao Filho. Na Cruz, porém, Jesus lhe disse que Ele estará presente em todos os que redimiu. Amando Jesus de todo o coração, Maria ama os cristãos. Amando de todo o coração os cristãos, Maria ama Cristo.

Ao segurar o menino Jesus em Belém, Maria segura em seu colo a mim e a você no Calvário. Na manjedoura, Cristo é o recém-nascido; no Calvário, Cristo é Cabeça da humanidade redimida, e nós estamos unidos a Ele como o Corpo à Cabeça. Na estrebaria, Maria deu à luz seu Filho sem dor e se tornou a Mãe da Alegria; na cruz, Maria nos deu à luz em meio dores e se tornou Nossa Senhora das Dores. É um grande consolo saber que a mãe nunca esquece o filho de seu seio.

Se você nunca rezou a Maria, faça-o agora. Reze a Maria para você ver Cristo se formando no seio dela e para ver Cristo sendo formado espiritualmente por ela em você. É a ela que devemos ir para aprender ter Cristo formado em nós.

Não pense que honrando nossa Senhora você esteja negligenciando Nosso Senhor. Se Ele disse para você: Eis aí tua mãe, bem convém a você respeitar quem Nosso Senhor escolheu para ser nossa mãe. No alto da cruz, Jesus, como Filho, pensou na sua mãe (eis aí tua mãe), e como salvador Ele pensou em nós (eis aí o teu filho).

Viva a Mãe de Deus e nossa!

Crédito: Fábio Rogério (JCS 2/01/2022)

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

Veja mais em: Biografia / Agenda do Arcebispo / Palavra do Pastor / Youtube / Redes Sociais

Compartilhe: