Normalmente um hóspede fixa residência lá onde pode encontrar um espaço acolhedor. Tal espaço preexiste ao hóspede, mas, quando o Espírito Santo vem habitar em nós, cria Ele mesmo um espaço interior.
Por que é importante esse espaço interior? Porque nós temos a tentação de colocar toda nossa vida na relação com o mundo externo, de nos abandonar às solicitações de toda espécie que dele vêm, de dedicar todas nossas energias em atividades susceptíveis de resultados imediatos e tangíveis. O Espírito Santo, porém, intervém, orientando a nossa atenção em direção ao mundo interior que Ele mesmo cria em nós.
Ele nos inspira a insatisfação com uma vida gasta unicamente em atividades externas, uma vida sem consistência, que se perde e se dissipa; e nos dá, ao mesmo tempo, a sede de recolhimento, a vontade de parar a corrente de atividades que nos arrasta; inspira-nos o gosto por um silêncio, que seja a suspensão dos rumores que nos ensurdecem; estimula-nos a fechar os olhos para contemplar a realidade espiritual; a cerrar os ouvidos para ouvir a Palavra de Deus; a fechar todas as portas de nossos sentidos para que se abra a nós o mundo invisível.
É significativo o fato de que, no início da vida pública, Jesus tenha sido guiado pelo Espírito Santo para o deserto (cf. Mt 4,1; Mc 1,12; Lc 4,1). A sua missão era de ir aos homens, mas o Espírito Santo, que preside a missão salvadora, o conduz antes de tudo para a solidão. Antes de se dedicar totalmente ao apostolado, Cristo passa quarenta dias em recolhimento total, e vive exclusivamente no mundo interior e na contemplação do Pai. O Espírito Santo suscita em Jesus o espaço interior, antes de inspirar-lhe a atividade pública.
No recolhimento, o Espírito Santo confere à alma uma maior profundidade, permitindo-lhe tomar consciência da misteriosa riqueza concedida pela inabitação das três pessoas divinas. O Espírito Santo não quer que esta presença seja sufocada por pensamentos mundanos e que, por isso, não seja percebida. O espaço interior que Ele cria tem, exatamente, o objetivo de focalizar o Filho e o Pai, permitindo à pessoa contemplá-los e apreciar a companhia deles.
Com o recolhimento, enfim, Ele concentra toda a pessoa sobre aquilo que é unicamente necessário e a faz viver em plenitude “a vida em Cristo” (cf. Rm 8,2); uma vida, como Ele ensina, escondida e que assim deve permanecer enquanto somos peregrinos; uma vida que é inevitavelmente uma morte ao mundo. “Vós estais mortos, e a nossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). O Espírito Santo, portanto, esconde a nossa vida, faz com que ela desça às profundidades invisíveis para imergi-la mais completamente na vida divina.
Criando um espaço interior, o Espírito Santo permite ao ser humano receber a luz divina, refletir e julgar serenamente em termos sobrenaturais. Por isso, entre as qualidades que o profeta Isaías tinha reconhecido no Messias, como conferidas pelo Espírito Santo que repousava sobre ele, a sabedoria ocupava um lugar importante sob diversos nomes: inteligência, conselho, conhecimento (cf. Is 11,2).
Dando ao ser humano olhos para ver aquilo que por si só não teria visto e ouvidos para entender o que não teria entendido sozinho, abrindo a sua inteligência e o seu coração às coisas que não teria podido compreender naturalmente, o Espírito Santo comunica uma sabedoria que se funda sobre todo o conjunto do plano salvador de Deus e permite colocar cada realidade particular na visão panorâmica que Deus tem de todas as coisas.
O Espírito Santo introduz, portanto, “nas profundezas de Deus”. Faz com que o cristão pense do mesmo modo que Deus; concede-lhe aquela retidão de valores e de juízo que pode ser chamado de bom senso sobrenatural.
O bom senso sobrenatural, repousando sobre o poder de Deus, aconselhará, por exemplo, sacrifícios que seriam repugnantes ao bom senso natural; aprovará atos de generosidade e audácias apostólicas que espantam a razão simples. Por isso o bom senso dos santos não coincide com o de muitos: as profundezas de Deus superam, de fato, tudo aquilo que o homem por si só pode conceber.
Doce Hóspede da alma, vinde! Por ti, conheçamos o Pai e o Filho!
Por Dom Julio Endi Akamine SAC
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