Espírito do Erro e a Sabedoria

Se as pessoas não estão sempre dispostas a acolher a sabedoria do Espírito Santo, é porque, além de desconcertar sua razão, elas devem lutar contra a falsa sabedoria inspirada pelo espírito do mal. Com efeito, não somente o Espírito da verdade influencia os juízos humanos, mas também o “espirito do erro” (Jo 4,6).

Muitos se deixam desviar por uma aparente sabedoria que o espírito do mal lhes apresenta; ele lhes solicita um amor que, no fim, é um desejo de prazer egoísta; apresenta, como substituto da alegria, excitações passageiras; propõe um simulacro de liberdade na independência orgulhosa e engana oferecendo uma falsa paz através do embotamento e do endurecimento da consciência moral. O Espírito Santo, porém, intervém e desmascara essa impostura conferindo “o discernimento dos espíritos”.

Ele ensina a discernir entre o verdadeiro amor, que comporta necessariamente um aspecto de abnegação, e um amor aparente que esconde uma busca de si mesmo; entre alegria superficial que, sob um prazer enganador, deixa subsistir a insatisfação e a tristeza, e a alegria autêntica que conserva, também na austeridade do sacrifício, toda sua plenitude; entre a falsa liberdade de quem se deixa escravizar pelas paixões e a verdadeira liberdade daquele que as domina; entre uma paz artificial que sufoca sem grandes resultados as legítimas reprovações da consciência moral e a paz profunda ancorada na amizade divina. E faz também sentir a diferença que existe entre as perturbações do arrependimento causado pela culpa e as inquietudes de todo tipo com as quais o espírito do mal tenta destruir a serenidade.

O pecado, por exemplo, pode provocar diferentes reações: o remorso fundado sobre os inconvenientes da culpa e sobre a desilusão que ela provoca; o despeito, espécie de rebelião íntima do amor-próprio que não aceita a derrota e a humilhação; o arrependimento, que se entristece pela ofensa cometida contra Deus e se humilha pedindo perdão. Ora, o Espírito Santo nos guia para o arrependimento, fazendo-nos superar o remorso e evitar o despeito; quando somos tentados a procurar uma compensação para nosso amor-próprio desiludido, ele volta nosso olhar para o amor divino ofendido, para nos inspirar uma contrição animada pelo amor.

O espírito do erro pode perverter coisas muito boas. A generosidade corre o perigo de se degenerar na complacência de si; a humildade pode conduzir a um empobrecimento da alma, a um senso de aniquilação que a faz voltar-se para si mesma e a torna mesquinha ou inerte; o zelo pode dar lugar à ambição e a arrogância; a tristeza por ter ofendido o Senhor pode converter-se em desespero. O Espírito Santo nos protege contra todos estes desvios que consistem no substituir o amor pelo amor-próprio. Ele nos faz descobrir o erro, abrindo-nos os olhos no momento em que nossa atitude inicial de amor em direção à Deus se desvia para nós mesmos.

Só o Espírito Santo nos permite ver claro em nós mesmos. Segundo as nossas ações, Ele exprime a satisfação de Deus dando-nos a paz de consciência e a alegria interior; ou então, com o remorso, a sua reprovação. O Espírito Santo é, portanto, a suprema salvaguarda contra as ilusões que colocam em grave perigo os indivíduos quando endereçam sua vida para um falso caminho ou se arriscam a cometer graves erros de conduta.

Algumas destas ilusões são de caráter doutrinal. Contra a teoria que tenta negar a existência do espírito do mal, por exemplo, o Espírito Santo nos confirma, iluminando a nossa experiência, aquilo que diz a Igreja e a Escritura: temos um adversário, Satanás, que procura nossa condenação e que é a origem de nossas tentações. Contra a tendência de inserir uma contradição entre amor a Deus e ao próximo, o Espírito Santo nos ensina a distinguir e, ao mesmo tempo, a unir o amor votado pessoalmente a Deus e o amor ao próximo em consideração à Deus. Contra a ilusão de nos libertar de todo tipo de autoridade e de regras morais para escutar somente as vozes interiores (a moral “faça você mesmo”), o Mestre interior nos mostra que ele age contemporaneamente e inseparavelmente tanto pela via institucional da autoridade e das leis exteriores como pela via das sugestões interiores; e que essas não vêm dele e não têm valor algum se não estão em harmonia com os preceitos externos.

Vinde, ó Espírito Criador! Nosso inimigo repeli, e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás.

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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