O envio do Espírito Santo não é possível sem a glorificação do Filho. De fato, na economia da salvação há uma ordem entre as missões históricas do Filho e do Espírito. Na ressurreição, Jesus recebe o Espírito em plenitude a ponto de se tornar “espírito que dá vida” (1Cor 15,45) no sentido de que também a sua humanidade assumida na encarnação se torna para nós fonte do dom do Espírito Santo.
O NT contempla a efusão do Espírito em relação de dependência com a glorificação de Jesus. Entre as duas missões há, portanto, uma relação intrínseca e não simples justaposição: Jesus, o Filho enviado ao mundo, é a fonte do Espírito para os homens.
Antes de Pentecostes, a presença do Espírito tem como características ser ocasional, de duração limitada e se dar somente sobre determinadas pessoas; trata-se, portanto, de uma ação pontual do Espírito, semelhante a que se deu nos profetas (cf. 1Pd 1,11).
Ao contrário, a citação do profeta Joel no discurso de Pedro no dia de Pentecostes (cf. At 2,17ss; Jl 3,1-5) mostra a convicção de que, com a ressurreição e ascensão do Senhor, chegou o momento previsto da efusão universal do Espírito como um dom escatológico e estável que impele a Igreja para a evangelização e lhe dá alegria do louvor a Deus (cf. At 2,4.11).
Jesus fala, na última ceia, da vinda do Espírito como algo que está ligado à sua morte e ressurreição. É conveniente aos discípulos que Jesus parta, porque do contrário não virá a eles o Paráclito (cf. Jo 16,7). O Pai dará o Espírito por causa da intercessão de Jesus (cf. 14,16) ou em seu nome (cf. 14,26). O Espírito procede do Pai, mas será enviado por Jesus de junto do Pai (cf. 16,14-15).
Deve-se reconhecer que a morte-exaltação de Jesus (cf. Jo 3,13-14; 8,28; 12,32) permite pensar que, no momento da morte, Jesus antecipa o dom do Espírito (Jo 19,30). Com efeito, a água e o sangue do lado aberto de Cristo são interpretados como alusão aos sacramentos do batismo e da eucaristia, mas indiretamente podem também ser uma alusão ao Espírito que sai do corpo de Jesus (cf. 7,38), que foi o seu receptáculo durante todo o tempo de sua vida.
Todos esses textos mostram que a Igreja teve consciência clara não somente da sucessão temporal, mas também da relação intrínseca que há entre a ressurreição de Jesus e o dom do Espírito Santo. As duas missões estão unidas intrinsecamente.
No dom do Espírito pelo Pai por meio de Jesus ressuscitado aparecem plenamente a “identidade” do Espírito, a riqueza e a variedade de seus efeitos. Se na atuação do Espírito sobre Jesus, durante a sua vida mortal, se sublinha sua condição de Espírito de Deus (Pai) que, não obstante, é também próprio de Jesus (pois permanece nele como seu lugar próprio), com a glorificação se evidencia que Ele é, ao mesmo tempo, Espírito do Filho.
Há, portanto, uma “ordem” na revelação da Trindade na história da salvação: o Espírito Santo é o último na revelação das Pessoas da Santíssima Trindade. De fato, o Espírito Santo, mesmo que esteja presente e em ação junto com o Pai e o Filho desde o início até a consumação do desígnio da salvação, só foi revelado, doado, reconhecido e acolhido como Pessoa, distinta e unida ao Pai e ao Filho, com a encarnação do Verbo e com o evento pascal de morte e ressurreição de Jesus Cristo. O Espírito Santo é o último na ordem do conhecimento porque só se chega a conhecê-lo como Pessoa Divina pela fé somente depois de conhecer o Pai e o Filho.
Por outro lado, precisamos reconhecer que na vida da graça há uma outra “ordem”, pois é somente graças ao Espírito que nós reconhecemos e aderimos a Jesus de Nazaré, crucificado e ressuscitado, como o Cristo e o Senhor, entrando assim em comunhão com Ele e, nEle, com o Pai. Por isso, o Espírito Santo é o primeiro na ordem da graça e da experiência de fé.
Em breve: o Espírito Santo é o primeiro na ordem da graça, e é o último na ordem do conhecimento das Pessoas da Santíssima Trindade.
Na iconografia cristã, o Espírito Santo muitas vezes não é representado com uma face própria. Essa ausência corresponde ao ser pessoal do Espírito Santo, pois é Ele que ilumina a face do Verbo e, na história da salvação, ilumina, em unidade e distinção com Cristo, o rosto da Igreja, que por esse mesmo motivo se torna “o lugar de nosso conhecimento do Espírito Santo”.
Por Dom Julio Endi Akamine SAC
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