Terça-feira da 5ª Semana do TC
Gn 1,20-2,4a
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A leitura do Gênesis narra o quinto e o sexto dia da criação; e por fim, o sétimo dia.
É preciso recordar sempre: entre fé e razão não há contradição. A ciência busca responder à questão dos tempos e das modalidades em que surgiu o cosmos e o ser humano; a fé e a Bíblia buscam a resposta à questão do sentido do cosmos e do ser humano: qual é sua origem? Para quê eles existem? Qual é a finalidade de tudo o que existe?
As afirmações do livro do Gênesis, portanto, não tem caráter científico. E isso não significa que suas afirmações sejam fantasiosas ou mentirosas. Exatamente o contrário: suas afirmações não são científicas porque se referem ao que a ciência não alcança somente pelas suas próprias forças. O Gênesis, é verdade, partilha a ciência da cultura em que o livro foi escrito, mas sua intenção não é permanecer somente na ciência de seu tempo. O Gênesis transmite uma sabedoria que supera as ciências de todos os tempos, ainda que seja elaborado na forma de um relato histórico. A sua intenção não é contar história, mas narrar o que transcende a história.
As afirmações do Gênesis são teológicas, ou sejam, falam de Deus, do seu desígnio ao criar o cosmos e a humanidade. Para captar toda a beleza e verdade do livro do Gênesis é preciso interpretá-lo com o mesmo espírito em que foi escrito: com assombro e gratidão, com fé e reverência, com admiração pela grandeza, beleza e bondade do cosmos.
É esse o convite inscrito em uma expressão que se repete no fim do terceiro, do quarto, do quinto e do sexto dia (“e Deus viu que era bom”). E mais uma vez, no sexto dia, depois de ter criado o ser humano, ainda se diz: “E Deus viu tudo quanto havia feito, e eis que tudo era muito bom”.
O relato do Gênesis revela Deus como o soberano que dá ordens (e Deus disse: faça-se) e as criaturas obedecem sem resistência vindo à existência. Deus é também o artesão que molda, produz e se compraz com a sua obra bem-feita. Ele é também o poeta que pronuncia os nomes das suas criaturas e enche o cosmos com suas palavras de amor.
Por terem sido criadas por Deus, toda a criação é boa, bela, harmoniosa e ordenada em seu todo e em cada uma de suas partes.
Outro detalhe que não é um detalhe: Deus cria alguns seres individuais e únicos: é o caso da luz, do firmamento (céu) que separa as águas superiores das inferiores, do solo enxuto (terra) e do ajuntamento das águas (mar). Deus, porém, cria outros seres segundo a sua espécie, de modo que eles se prolonguem e cresçam pela fecundidade, numa forma de ação criadora continuada. Esse é o caso da vegetação, dos seres marinhos, dos pássaros dos céus, dos animais domésticos e selvagens. A esses seres Deus mandou que fossem fecundos e que povoassem o mundo.
Por mais belo e maravilhoso que seja, tudo isso é ainda a preparação do ambiente e do espaço da “obra muito boa” que Deus vai criar. Toda a obra criadora é como a de um arquiteto: Deus constrói a abóboda do templo e nela pendura os luzeiros, preenche os espaços debaixo dele (a terra, o céu e o mar) de belos ornamentos, mas, por fim, coloca no centro a “sua imagem e semelhança” que é o ser humano. O ser humano é o ponto alto da criação, é a criatura que está mais próxima de Deus. Pelo seu ser pessoal, o ser humano pode tomar consciência de si mesmo e da presença do Criador; ele pode interpretar o mundo como obra de Deus; é como o regente de uma orquestra que canta os louvores da criação e assim fazendo pode se elevar até Deus.
Por Dom Julio Endi Akamine SAC
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