Terça-feira 19ª Semana TC
Lc 1,39-56
A solenidade de Nossa Senhora da Ponte está estreitamente ligada ao mistério da Assunção de Nossa Senhora ao céu.
A solenidade da “Assunção” era denominada originalmente como “dormição da Mãe de Deus” (Koimesis tes Teotokou). Foi logo acolhida na liturgia romana no decurso do século VII, foi aí denominada dormitio, pausatio, natalis, revelando assim ser uma antiquíssima memória de Maria. No século VIII recebe o nome de Assumptio. O papa Pio XII definiu o dogma da Assunção corpórea de Maria ao céu. Esta solenidade celebra “o dia em que a santa Mãe de Deus sofreu a morte terrena, mas não permaneceu nas amarras da morte”. Esta definição ocorreu em 1950.
Enquanto a “Anunciação” mostra o início histórico da vida de Maria no seu significado salvífico, a “Assunção” orienta o olhar do cristão para o fim da vida de Maria que é o momento da sua entrada no céu. A certeza da meta final alcançada é a razão da grande alegria que marca esta solenidade. “Esta é a festa do seu destino de plenitude, de bem-aventurança, da glorificação de sua alma imaculada e de seu corpo virginal” (MC 7).
Maria é a única criatura humana – depois de Cristo e no seu seguimento – que entrou de corpo e alma na bem-aventurança do céu, depois de ter terminado a sua caminhada na terra. O mistério está sobretudo na coincidência da morte e da glorificação de Maria. Para todos os outros que morrem em graça, segundo a fé da Igreja, a glorificação só se dará no fim do mundo e da história da salvação, no momento da ressurreição dos mortos.
A assunção corpórea de Maria está ligada de maneira particular com sua divina maternidade, com a sua virgindade e com a sua imaculada conceição. O corpo de Maria foi de tal modo assemelhado ao corpo de Jesus que, como este, não conheceu a corrupção. A corrupção do corpo sempre foi visto como um sinal do domínio do pecado e de suas consequências. Ora, durante a sua vida, Maria esteve livre de tal domínio. Assim a isenção da corrupção pode ser vista como uma consequência coerente de sua isenção do pecado. A relação única de Maria com Jesus Cristo justifica esta “distinção” corpórea de Maria. Maria foi recebida na glória celeste sem ter passado pela corrupção do sepulcro porque o seu corpo não obscurecido por pecado algum. Seu corpo imaculado foi o meio luminoso através do qual passou a graça em pessoa, Jesus Cristo.
O momento pessoal de Maria, no entanto, jamais deve ser visto de maneira isolada. Na realidade Maria jamais existiu sozinha diante de Deus. Por isso também seus privilégios individuais não devem ser separados do papel salvífico que ela desempenhou em benefício de toda a humanidade. Se Deus glorificou uma pessoa – Maria – Ele o fez em vista do bem de todos nós. A assunção não é só um privilégio pessoal de Maria, mas principalmente um evento de redenção, um evento que representa a redenção chegada à sua consumação num membro da multidão daqueles que têm necessidade de redenção. De fato, só se pode dizer que a redenção está realizada, quando os seus efeitos se realizam em todas as criaturas, inclusive no corpo dessas criaturas.
A assunção de Maria em corpo e alma nos revela como a fé em Cristo valoriza o sinal do corpo. Sabemos como a cultura brasileira expressa afeto e amor através do corpo. O jeito brasileiro, às vezes, choca as pessoas de outras culturas pelas expressões corporais com que os brasileiros exprimem afeto: abraço, beijo, toques. A assunção de Maria nos revela o jeito brasileiro da salvação de Deus.
Através da assunção, Maria se tornou aquela que foi totalmente redimida. Nela se revela em que consiste, em última análise, a redenção, hoje muitas vezes reduzida a sinônimo de libertação do corpo. A redenção é a completa irrupção da vida divina também no corpo humano, a transfiguração da própria realidade material do homem e da mulher e a vitória sobre a morte em todas as suas formas.
O que aconteceu em Maria, portanto, possui importância não só para ela, mas também para nós, porque Maria, um membro da humanidade necessitada de redenção como nós, vive no estado de realização final. O que aconteceu neste membro aproxima, de certa forma, todos nós da meta final e o consolida na fé e na esperança.
Nossa fé não é uma falsa ilusão, porque já alcançou sua meta em Maria; nossa esperança não é vazia porque, com Maria, a totalmente redimida, já se antecipou no hoje da solenidade. É como se já tivéssemos lançado no reino do céu uma âncora que confere firmeza à nossa esperança. Na sua glória, Maria é para nós símbolo do fim da Igreja, é sinal eficaz para cada um de nós que estamos a caminho da realização completa. Maria “propõe à Igreja e à humanidade a imagem e o documento consolador da realização da esperança final” (Paulo VI).
Por Dom Julio Endi Akamine SAC
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