Comentário ao Evangelho – Sábado da 3ª semana do TC – 28.01.2023

Sábado da 3ª semana do TC

Hb 11,1-2.8-19

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Somos convidados pela leitura a refletir sobre o grande dom da fé. Segundo a carta aos Hebreus: “a fé é um modo de possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem”. Segundo essa definição a fé não é somente um crer, mas também um esperar. Com efeito, a fé sempre está ligada à virtude da esperança

A esperança desempenha na vida de fé um papel preponderante. Na realidade esperança e fé são inseparáveis. A fé nos garante a realidade daquilo que é objeto de nossa esperança.

Outro ensinamento importante da leitura de hoje é que nós podemos escolher encarar a vida entre duas alternativas: podemos entender a vida a partir da fé, ou entendê-la a partir de nós mesmos. Entender a vida a partir de nós mesmos significa ter uma concepção materialista da vida, baseada na suficiência humana ou nas circunstâncias e possibilidades que a vida nos oferece no aqui e no agora. Nada há para além das realidades que vemos com nossos próprios olhos, nem futuro no qual as coisas sejam melhores do que no presente.

Entendida a partir da fé, a vida se revela como uma peregrinação para uma pátria melhor, com a certeza de um futuro que nos espera e que compensará todas as renúncias e sacrifícios que a própria fé nos impõe no presente.

A primeira concepção da vida estava muito difundida na sociedade e na cultura daquela época, sobretudo na filosofia do estoicismo. O estoicismo proclamava a superação e o desprendimento das coisas deste mundo a fim de alcançar a paz interior e a segurança superior às coisas e comodidades que este mundo podia dar. No fundo, o estoicismo almejava a suficiência humana: a felicidade estoica não dependia das frágeis garantias que o mundo podia oferecer; era preciso buscar em si mesmo a garantia e a estabilidade da felicidade.

A escolha do caminho da fé é apresentada concretamente a partir do exemplo de grandes personagens do Antigo Testamento. Dentre tantos exemplos de fé, São Paulo se detém mais longamente no exemplo eloquente de Abraão.

Foi pela fé que Abraão obedeceu à ordem de partir para uma terra que devia receber por herança”. A vida de Abraão foi determinada e guiada pela fé. Sua vida foi uma longa peregrinação em busca da promessa divina: Abraão “esperava a cidade alicerçada que tem Deus mesmo por arquiteto e construtor”.

Também a morte foi entendida a partir da fé e foi nela ancorada. A morte não diminuiu, mas intensificou a certeza do que ele esperava. Apesar de ter morrido sem ter visto cumprida a promessa, Abraão a avistou de longe, como um peregrino que avista a meta do seu caminho sem ter alcançado. “Todos estes morreram na fé. Não receberam a realização da promessa, mas a puderam ver e saudar de longe e declararam como estrangeiros e migrantes nesta terra”. Assim ele perseverou na fé. Abraão e os outros patriarcas se comportaram dessa maneira por causa do desejo que tinham de uma pátria para além deste mundo visível, porque pensavam na cidade que Deus lhes tinha preparado.

Os patriarcas encontraram assim a sua pátria em Deus, a quem pertenceram pela fé durante a peregrinação terrestre. Deus reconheceu e recompensou esse modo de viver a vida a partir da fé. “Por isso Deus não se envergonha deles, ao ser chamado seu Deus. pois preparou uma cidade para eles”.

Perguntemo-nos: vivo a partir da fé ou da minha autossuficiência?

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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