Comentário ao Evangelho – Sábado 24/09/2022

Sábado da 25ª Semana TC

Ecl 11,9-12,8

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O Eclesiastes contempla a velhice com tristeza e melancolia. De fato, o tempo da velhice é marcada pela incapacidade de a pessoa em poder desfrutar da vida. Ficar velho significa sentir, no corpo, a decadência progressiva dos sentidos e, na razão, o avanço inevitável da demência. E fato, chegam os anos em que diremos: não sinto prazer neles! Na velhice os guardas começam a tremer; os robustos se encurvam; as mulheres deixam de moer; as vistas ficam turvas; os ouvidos deixam de sentir até os ruídos; as canções cessam; os medos e os sobressaltos aumentam; a comida perde o gosto; a morte se aproxima!

O tempo da velhice não assombra somente os idosos, mas também os jovens conscientes, pois eles também envelhecerão. A única alternativa para a velhice é a morte prematura. Por isso, o Eclesiastes tem da juventude uma visão também negativa: “pois a adolescência e a juventude também são vaidade”.

No Eclesiastes, vaidade não é sinônimo de narcisismo. Vaidade é a falta de sentido, o nada e o vazio da existência. Tanto a velhice quanto a juventude não passam de vaidade!

Com efeito, o livro do Eclesiastes termina com as mesmas palavras com que ele começa: “Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes”. Ou seja, a vida não tem sentido, há somente o fim, ou seja, a morte. Aquilo de mais precisamos – uma razão para viver e morrer – simplesmente não existe. O inferno não é sofrimento; é nada, a falta de sentido, o gelo do vazio. Em uma palavra certeira: vaidade.

Os rabinos, que reconheceram que este livro é inspirado por Deus e o incluíram no Cânon bíblico, certamente foram sábios muito corajosos e igualmente inspirados por Deus. Eles perceberam que nós apreciamos melhor uma coisa pelo seu contraste, e o Eclesiastes é exatamente o contrário dos outros livros bíblicos. Os outros livros dão a resposta; o Eclesiastes suscita a pergunta. Graças a Deus este livro foi incluído no Cânon bíblico.

Com efeito, nada há mais sem sentido do que uma resposta sem a pergunta. É por isso que precisamos tanto do Eclesiastes. A pergunta do Eclesiastes é tão profunda e inquietante que só uma resposta ainda mais profunda pode satisfazer a mente e o coração de quem ousa fazer a pergunta. Sem essa resposta, há só duas opções: ou fugimos da pergunta e a abafamos com desonestidade ou fugimos da vida. Essas são as duas feridas abertas que infestam o mundo moderno.

O Eclesiastes é o livro da Bíblia que o ser humano moderno mais necessita ler, pois é a primeira lição; os outros livros são a segunda. O homem moderno não presta atenção aos livros da Bíblia porque não prestou atenção ao Eclesiastes. Em tempos antigos, podíamos começar a ler a Bíblia pelo Gênesis. Hoje, porém, precisamos começar onde está o nosso paciente: vaidade das vaidades; nada há de novo debaixo do sol!

Os outros livros da Bíblia são como o tomógrafo. O Eclesiastes é uma máquina fotográfica. São uma série de fotografias verbais que nos ajudam a observar o que vemos. Muitas vezes nós olhamos sem observar, sem ver. A fotografia nos ajuda exatamente a isso: a olhar e ver e observar. A fotografia do Eclesiastes nos mostra como as alegrias desta vida são inúteis. O tomógrafo do Evangelho nos mostra onde podemos encontrar a verdadeira alegria!

 

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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