Comentário ao Evangelho – Sábado 13/08/2022

Sábado da 19ª Semana do TC

Ez 18,1-10.13b.30-32

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Os problemas da responsabilidade e da solidariedade não são simples. O filosofo Leibnitz considerava que cada um de nós é uma mônada, uma espécie de átomo espiritual isolado e sem solidariedade com os outros.

Na Bíblia, por outro lado, encontramos um senso forte de solidariedade na família, na tribo e no povo. Quando o Senhor se revela solenemente a Moisés, se apresenta como o Deus que conserva o seu favor por mil gerações para aqueles que observam os mandamentos, mas castiga a culpa dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até a terceira e a quarta geração (cf. Ex 20,5-6; 34,7). Essa declaração divina confirma o princípio da incidência das nossas ações na vida de nosso próximo, mas sublinha também que Deus faz prevalecer muito mais a incidência do bem para as gerações sucessivas.

A leitura começa com uma afirmação impressionante: “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos ficaram embotados”. A consequência que as pessoas tiravam desse provérbio era de que não adiantava se converter e se esforça em ser justo, pois todos devíamos sofrer os castigos pelas culpas alheias.

O profeta Ezequiel luta contra essa mentalidade fatalista, afirmando fortemente o princípio da responsabilidade pessoal: “vou julgar cada um de vós segundo a sua conduta”. Ezequiel ainda explica que se uma pessoa é justa e observa os mandamentos, ela viverá. E se ela gerar um filho violento e sanguinário que comete ações iníquas, esse filho não viverá, malgrado todos os méritos de seu pai. E também o inverso: se um pai agiu mal, ele receberá o castigo pelos males realizados, mas o filho se for bom, não será punido por causa de seu pai.

Assim Ezequiel pode concluir: “Arrependei-vos, convertei-vos de todas as vossas transgressões, a fim de não terdes ocasião de cair em pecado”. Por isso vale a pena se converter. Deus é justo e não castiga quem não o merece.

Esse ensinamento é valiosíssimo, mas pode, se mal interpretado, levar ao individualismo do justo: “Cada um por si, e Deus para todos”. Ser responsável e assumir a responsabilidade pelos seus atos não é o mesmo que se preocupa somente consigo mesmo. A verdadeira justiça segundo Deus não nos leva a ser indiferente pela salvação dos outros. Jesus lutou contra essa mentalidade farisaica do justo que não quer saber de relação alguma com os pecadores.

Pelo contrário, todos devemos nos reconhecer pecadores e acolher a graça divina do perdão para sermos solidários com os pecadores. Ser solidário com o pecador não é ser cúmplice do pecador, mas carregar o fardo do pecado para ajudar o pecador a superá-lo.

Foi o que Jesus fez. Ele foi solidário com os pecadores, carregando sobre si o pecado do mundo, para vencê-lo em si e em nós.

Acolhamos o convite de Ezequiel: “Arrependei-vos e convertei-vos”. Acolhamos também o Espírito de Cristo que nos impulsiona a ser solidários com os pecadores.

 

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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