Oitava da Páscoa – ANO A
Lc 24,35-48
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A aparição de Jesus em pessoa entre os seus discípulos é tão inesperada que eles não podem acreditar: pensam que é um fantasma. De fato, a ressurreição não é invenção, não é criação da comunidade entusiasmada. Foi necessária uma intervenção de Jesus vivo para que eles chegassem à fé na ressurreição.
Jesus se faz reconhecer com sinais realíssimos: “olhai minhas mãos e meus pés. Sou eu mesmo”. Aquilo que eles veem é o corpo de Jesus que foi pregado, que foi traspassado. Deus, em Cristo, iniciou uma nova criação: tomou um corpo humano e o fez um novo corpo espiritual, mas que está em continuidade com o primeiro.
“Abriu-lhes a mente para a inteligência das Escrituras”. É a grande revelação do NT: a ressurreição de Jesus dá um novo sentido, um sentido definitivo para as Escrituras. Todas as coisas que pareciam enigmáticas, obscuras, se tornam luminosas, claras, como profecia da ressurreição de Cristo.
Nas Escrituras, de fato, muitas coisas anunciam a ressurreição de Cristo, muitas coisas são figuras da paixão e da ressurreição. Naturalmente não podiam representar todo o mistério: eram uma imagem antecipada e, portanto, imperfeita. Quando Jesus ressuscitou, então aparece claro tudo aquilo que as narrações, os salmos e os relatos anunciavam do mistério de Deus: a paixão morte e ressurreição de Cristo.
Em que sentido as coisas do AT são figuras imperfeitas? São imperfeitas no sentido de que toda vez que a morte é representada de modo real, a ressurreição não se representa do mesmo modo. E vice-versa, quando a ressurreição é efetivamente figurada, então é a morte que não se representa da mesma maneira.
Explico-me com alguns exemplos. Abel assassinado pelo irmão é figura de Cristo na sua morte. Depois da sua morte, Deus diz a Caim: “O sangue do teu irmão clama a mim”. Abel morto fala ainda. Aqui o NT viu uma figura da ressurreição de Cristo, mas é uma figura muito pálida: há algo de Abel que ainda vive depois de sua morte e que clama a Deus, mas Abel mesmo não se apresenta mais vivo diante de Caim.
Outro exemplo: o sacrifício de Isaac. Aqui é a ressurreição que é prefigurada de modo real, porque depois do sacrifício, Isaac está vivo; Abraão recupera seu filho com vida. Por outro lado, a morte não aconteceu realmente. Abraão levanta o braço para sacrificar o filho, mas o não mata realmente. O sacrifício é somente simbólico.
Também a história de José é figura da morte e da ressurreição de Cristo. José vivo acolhe os seus irmãos que queriam matá-lo por inveja contra ele, como Cristo acolhe todos os seus irmãos depois da paixão sofrida pelos pecados deles. José abre aos irmãos as riquezas de um mundo novo, como Cristo abre a nós as riquezas do reino de Deus. Também neste episódio a morte não se verificou realmente. José foi morto simbolicamente, foi jogado no poço como a um morto na tumba, seu pai recebeu suas vestes manchadas de sangue, mas na realidade ele não foi morto.
Muitos símbolos ainda representam de modo preparatório o grande mistério da Páscoa: a história do povo de Deus, o templo destruído e reconstruído depois do exílio.
Depois desta milenar preparação se cumpre definitivamente em Cristo o mistério e se iluminam todas as profecias e prefigurações.
Por Dom Julio Endi Akamine SAC
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