Comentário ao Evangelho – Quarta-feira da 5ª Semana do TC – 08.02.2023

Quarta-feira da 5ª Semana do TC

Gn 2,4b-9.15-17

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O relato da criação que ouvimos é uma repetição do relato da criação de Gn1. Por que essa repetição? Porque a repetição aprofunda outras questões fundamentais para a existência humana.

O relato tem a forma de uma narrativa histórica, mas não devemos confundir a história interior e vertical com a história exterior e horizontal, os eventos da salvação com os fatos históricos. Os personagens Adão e Eva representam a humanidade inteira numa história interior e vertical. Eles são mais do que personagens históricos, pois trazem em si a realidade dos seres humanos de todos os tempos.

Para criar Adão, Deus como o oleiro, “modela o homem do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente”. O pó da terra umedecido torna possível a modelação do homem. É muito bela essa imagem: o homem nasceu do seio da terra e traz as marcas e o calor dos dedos de Deus. Nós nos reconhecemos nessa imagem: percebemos em nós o elemento telúrico e como estamos ligados ao mundo físico e que um dia retornaremos a ele.

Depois de formado, Deus infundiu o seu sopro para que pudesse viver. O homem é terra, mas não só terra; nele há um elemento espiritual e um respiro de Deus que nos eleva acima da realidade material. De fato, nós podemos constatar a todo momento o quanto estamos ligados à matéria; e, mesmo rodeados de realidades materiais, experimentamos que não estamos reduzidos à realidade material. Com a nossa consciência, nossa inteligência e nossa liberdade transcendemos a realidade material e tocamos a realidade espiritual.

Como se pode ver, essa visão antropológica do relato do Gênesis é fruto da observação e da fé.

Depois da criação de Adão, Deus plantou um jardim em Éden e ali pôs o homem que havia formado. A morada preparada por Deus é um jardim que Adão deverá cultivar e cuidar. Ao relatar que Deus plantou o jardim, o Gênesis expressa a convicção de fé que em todas as formas de vida Deus está presente não como um elemento extrínseco nem se confunde com elas. Deus está presente de maneira ativa. O mundo é a morada do homem preparado por Deus para que o homem cuide dele e o cultive. Mais uma vez não há como não nos identificarmos com Adão: a fé nos faz constatar que em tudo o que existe, Deus se faz presente sem se confundir e sem se separar. O mundo é nossa casa comum que deve ser cuidada e preservada. Dele vivemos, mas não podemos destruí-lo sem que nos destruamos a nós mesmos.

No jardim há a árvore do conhecimento do bem e do mal. Deus proibiu que o homem dela comesse a fim de não morrer. Qual é o sentido dessa proibição? A serpente dirá que a proibição é mal intencionada. Mas o Gênesis deixa claro que tal proibição foi feita para precaver o ser humano contra o mal. De fato, Deus avisou que “no dia em que dela comeres, sem dúvida morrerás”. Como veremos mais adiante, no relato do Gênesis, ao comer da árvore do conhecimento do bem e do mal o homem não morreu, mas se condenou a uma vida infeliz e dominada pelo mal e pela morte. É preciso entender o “viver” e o “morrer” conforme a própria Bíblia: “viver” consiste na vida feliz, plena e realizada; “morrer” é a existência infeliz e pecadora.

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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