Quarta-feira da 19ª Semana do TC
Dt 34,1-12
O relato da morte de Moisés de maneira breve. Quase não descreve os sentimentos do povo nem de Moisés, tampouco de Josué. O drama da morte de Moisés parece não importar a ninguém. Até mesmo o lugar da sua sepultura foi esquecido “e ninguém sabe até hoje onde fica a sua sepultura”.
Moisés foi esquecido? Certamente não! Conforme a leitura: “em Israel nunca surgiu um profeta como Moisés, a quem o Senhor conhecesse face a face”. O esquecimento do lugar de sepultamento de Moisés se deve ao fato de que o seu desaparecimento não deixou um vazio. Afinal a condução de Moisés era na verdade sinal de que é Deus quem conduz o povo, e Deus não morre. Assim ninguém precisava peregrinar para o lugar de sua sepultura, uma vez Moisés permaneceu de alguma forma vivo. Nesse sentido, Moisés é uma prefiguração imperfeita de Cristo. Da mesma forma como nunca peregrinamos para a sepultura de Jesus como o lugar de sua permanência, assim também o lugar de sepultura de Moisés foi esquecido.
O Antigo Testamento está repleto de prefigurações imperfeitas da morte e da ressurreição de Cristo.
Vejamos alguns exemplos. Abel prefigura o mistério de Cristo, porque ele morreu, mas, em um certo sentido, se manifesta vivo depois da morte: a voz do seu sangue clama ao céu. Na realidade Abel está morto, não ressuscitou, mas algo dele clama ao céu. Nesse sentido, Abel prefigura de modo imperfeito a ressurreição de Cristo.
O sacrifício de Isaac é também uma prefiguração da morte e ressurreição de Cristo. Abraão desce da montanha com Isaac vivo realmente, mas ele não morreu realmente. O sacrifício de Abraão foi um sacrifício espiritual, não foi cruento. Na cruz, porém, o sacrifício de Jesus é cruento. Assim o sacrifício de Abraão prefigura parcialmente o sacrifício da cruz.
A história de José é também uma prefiguração. José é uma prefiguração parcial da morte de Cristo, pois ele não foi realmente morto pelos seus irmãos e, assim, pôde, após muitos anos salvar o pai e os seus irmãos da fome.
Assim acontece com todas as prefigurações do Antigo Testamento. Nelas vemos um aspecto do mistério de Cristo, mas não o mistério total. O reinado de Davi prefigura o reinado de Cristo; mas Davi não foi capaz de edificar a casa de Deus. Salomão construiu o templo, mas o templo é uma edificação material e não o verdadeiro Templo de Deus que Cristo reedificará em três dias. O verdadeiro Templo é Cristo ressuscitado!
Somente Cristo é a plenitude. Ele cumpre perfeitamente todas as prefigurações do Antigo Testamento. Ele realiza no mistério pascal todas as prefigurações da economia da salvação. Cristo realizou tudo o que foi preparado no AT, levou à plenitude todas as figuras parciais do AT.
Nesse sentido, podemos também entender melhor o fato de Moisés não ter entrado na terra prometida. Moisés não pôde concluir a obra que tinha começado com a saída do Egito. Apesar de todos os seus dons e todas as graças recebidas, Moisés não levou a termo a obra começada. Ele fez quase tudo, mas é Josué que concluirá o Êxodo. Moisés iniciou e levou avante a libertação, mas foi Josué que concluiu o projeto de Deus.
Vemos que tudo isso aconteceu para a nossa vantagem. Conforme a carta aos Hebreus 11, 39-40: “todos eles, se bem que pela fé tenham recebido bom testemunho, não alcançaram a realização da promessa. É que Deus estava prevendo algo melhor para nós: não queria que eles alcançassem, sem nós, a plena realização”.
Por Dom Julio Endi Akamine SAC
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