Comentário ao Evangelho – Domingo 27/03/2022

4º Domingo da Quaresma

Lc 15,1-3.11-32

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A parábola do filho pródigo é a rainha de todas as parábolas.

Esta parábola deixa transparecer em seu desenvolvimento elementos impactantes: o abandono da casa, a dissipação libertina, a queda humilhante, as privações merecidas, a saudade de casa paterna, a espera impaciente e esperançosa do pai, o retorno à vida, o abraço sem recriminações, a festa.

Ao passar da ovelha e da moeda perdidas para o filho perdido e reencontrado, Jesus cumpre algo que ele disse: Ele revela o Pai (10,22). A paternidade humana é reflexo especular da paternidade de Deus e por isso o pai da parábola nos faz conhecer o Pai de Jesus.

O filho mais novo pede a parte de sua herança. Ela corresponde a um terço dos bens móveis (Dt 21,17). O motivo desse pedido do filho mais novo fica claro com o que ele faz imediatamente depois de receber sua parte: ele parte para longe do pai. Trata-se de rompimento com o pai. Ele parte para longe buscando a sua liberdade do pai.

A liberdade se revela como libertinagem, e a libertinagem o leva à miséria porque “bebedores e comilões se arruínam” (Pr 23,21); “quem se junta com prostitutas dissipa sua fortuna” (Pr 29,3). Assim a fome e a miséria do filho pródigo não são castigos extrínsecos, mas consequências bem conhecidas de uma conduta tão insensata quanto ingrata.

Submetido à escravidão a um patrão pagão, humilhado por um ofício infamante, forçado a permanecer com animais impuros, o filho pródigo cai na conta que os porcos gozam de uma sorte melhor do que a dele: os porcos têm a lavagem. Ele nem isso recebe!

É nesse momento que ele se lembra do pai! A necessidade o faz refletir; a fome o faz lembrar que os empregados do pai têm pão com fartura! Mais uma vez o filho pródigo mostra que só pensa em si mesmo, só sabe raciocinar em função de seus interesses pessoais.

Ouvimos os pensamentos do jovem, mas ele não permanece somente nessa constatação egoísta. Percebe que além de perder dinheiro, ele perdeu algo mais precioso: a dignidade de filho. Superando o interesse pessoal, o jovem descobre, além disso, a dimensão transcendente de sua falta contra o pai: pecou também contra Deus! Ele se impõe um castigo: o de perder todos os direitos de filho e ser tratado como um empregado.

O pai, porém, não leva o assunto por via legal, mas se deixa levar pelo afeto paternal: “minhas entranhas se comovem e cedo à compaixão” (Jr 31,20); “meu coração se contorce dentro de mim, minhas entranhas se comovem” (Os 11,8).

Vendo ao longe o filho que retorna, o pai sai correndo a seu encontro. O abraço sela a reconciliação e impede que o filho pronuncie a sua confissão. É recebido como filho. Traje e anel são os sinais externos da filiação recuperada. De fato, o filho estava morto e voltou a viver. Ele não só retornou para casa; ele se arrependeu e voltou melhor do que quando partiu. Trata-se de uma vida melhorada que merece ser festejada.

A parábola tem uma segunda parte porque nem todos se alegram com o final da parábola. Há quem não aceite nem compreenda a fraqueza do pai. O filho mais velho é como Jonas que não queria ser profeta de um Deus compassivo e clemente, paciente e misericordioso, capaz de deixar na mão o seu profeta em vez de destruir os ninivitas arrependidos.

O filho mais velho também regressa para casa. Está cansado, depois de um longo dia de trabalho no campo. Ele protesta contra o pai e o irmão: o outro gastou os bens com prostitutas, a ele nunca lhe ofereceu sequer um cabrito para festejar.

O filho mais velho precisa também de conversão. Estar sempre com o pai deveria ser sua alegria e felicidade e não uma condição para reivindicar! Nunca ganhou um cabrito do pai, porque tudo o que lhe pertence é também dele! O filho mais velho precisa se converter de empregado em filho!

Entrou o filho mais velho para festejar o retorno do irmão? Não sabemos. Só sabemos que paternidade gera fraternidade.

 

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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