Comentário ao Evangelho – Domingo 23/05/2021

Pentecostes B

Jo 20, 19-23

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Alguns pensadores afirmam que a violência é a alavanca da história humana, pois não há mudança profunda que não tenha sido arrancada por guerra, revolução e derramamento de sangue. É uma constatação tão triste quanto terrível da história da humanidade.

Hoje nós somos postos diante e dentro de uma outra história: a história da salvação. Nela os protagonistas são Deus e o ser humano. É claro que eles não são protagonistas no mesmo nível de liberdade e de responsabilidade. Além dos protagonistas desiguais, a alavanca da história da salvação não é a violência, mas o Espírito Santo. O Espírito é a força e a ternura, o poder e a suavidade do amor.

Em cada salto de qualidade na realização da história da salvação, ocorre uma intervenção especial do Espírito Santo. Percorramos juntos essa história, ainda que de maneira muito breve.

No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra era sem forma e vazia, e sobre o abismo havia trevas”. Reinava o caos, mas eis que “o espírito de Deus pairou sobre as águas”. A partir dessa ação de pairar sobre o caos, foi possível o surgimento da luz, a separação entre noite e dia, a ordem e a harmonia do universo. As coisas vão se constituindo e começam a ocupar o seu lugar no Cosmos: as águas se juntam no mar, as ervas e as sementes germinam na terra, os astros começam a brilhar no céu. A cada movimento e ser, “Deus viu que era bom”.

O mundo ficou pronto em seis dias, ou na linguagem científica de hoje, em bilhões de anos. Foi nesse momento que Deus disse: “Façamos um ser humano, à nossa imagem e segundo a nossa semelhança”. Ele plasmou o ser humano do barro da terra. É a maneira bíblica de falar que Deus preparou, com as leis da evolução que ele mesmo tinha posto na matéria, um animal diferente de todos os outros, o ser humano. Era um animal diferente, mas sempre animal, guiado por instintos. E foi nesse momento que o mesmo espírito que pairava sobre as águas foi insuflado no ser humano. Aquele hominídeo, em dado momento, dá um salto evolutivo e é tornado um ser espiritual, dotado de inteligência e vontade, razão e liberdade. Com a intervenção do espírito de Deus, aquele ser foi tornado um ser capaz de dialogar com o seu Criador, ser seu amigo, mas também com a possibilidade de se revoltar contra Ele.

A escolha do ser humano pendeu, infelizmente, para essa segunda possibilidade. Em vez de acolher a vocação de ser amigo de Deus, de ser Deus em comunhão com Deus, preferiu buscar ser deus contra e sem Deus. Aconteceu um rompimento tão profundo que o ser humano não podia nem queria se comunicar com Deus.

Deus, porém, não se deixou vencer pelo pecado. Em sua misericórdia, Ele decidiu recriar a sua obra, não destruindo a primeira, mas resgatando-a do pecado e do mal em que caíra. Para essa nova criação, Deus decidiu tomar um novo tronco genealógico, um novo Adão, seu próprio Filho Jesus Cristo. Tirou o Novo Adão do seio da Virgem Maria, da mesma maneira como tinha tirado o primeiro Adão do seio da terra. A nova criação se realizou por obra do Espírito Santo. O Espírito Santo marca o início de uma nova fase da história da salvação.

Toda a vida de Jesus na terra se desenrola sob a ação do Espírito Santo. Ele guia as escolhas de Jesus; por sua virtude é que Jesus realiza os milagres, as curas e os exorcismos. De fato, no batismo no Jordão, Jesus é consagrado com o Espírito Santo e com o poder (At 10,38) para evangelizar os pobres.

Após o batismo, Jesus é conduzido pelo Espírito ao deserto. E Jesus começa a revelar por suas palavras que o Espírito não é uma força anônima de Deus, mas uma pessoa em Deus. Jesus promete aos discípulos que o Espírito será um outro Consolador, que conduzirá os discípulos à verdade plena, que dará testemunho de Jesus neles.

Concluída a sua obra na terra, Jesus é glorificado à direita do Pai. Na terra Jesus deixou a Igreja, formada de onze apóstolos amedrontados. A sua Igreja parece ainda com o corpo inanimado e inerte daquele primeiro homem modelado da terra. E eis que em Pentecostes, o Espírito é soprado neste corpo inanimado, e a Igreja se torna Corpo vivente de Cristo. Pentecoste é o natal da Igreja, como o natal tinha sido o Pentecostes de Jesus! A presença de Maria no Cenáculo serve exatamente para lembrar a ligação estreita entre o natal de Jesus e o natal da Igreja.

O milagre de Pentecostes continua se renovando aqui e neste tempo. Hoje a Igreja continua falando todas as línguas de todos os povos. Ela compreende e valoriza a cultura e o patrimônio de cada povo e de cada etnia, e cada povo compreende seu anúncio de salvação como algo destinado a si.

Supliquemos hoje com fé e com alegria: “Vinde, Espírito Santo! Enchei os corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”.

 

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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