Comentário ao Evangelho – Domingo 21/03/2021

Quinto Domingo da Quaresma B

Jo 12, 20-33

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Alguns gregos, talvez por curiosidade, se dirigem a Filipe, que também falava grego, pedem para ver Jesus. O pedido é preciso: “Queremos ver Jesus”.

Somente esse pedido já revela as diferenças entre a cultura grega e a dos judeus. A espiritualidade do homem bíblico é a espiritualidade do ouvir e não do ver: “Ouve, Israel, o Senhor…”. O essencial para a espiritualidade hebraica é a palavra. Por sua vez, a espiritualidade grega está ligada à visão: a religiosidade deles privilegia não o profeta que prega, mas o vidente; Deus se manifesta mais nos ciclos da natureza do que nos acontecimentos da história. O hebreu se maravilha ouvindo a palavra de Deus na história do povo, enquanto que o grego se encantava mais com as grandes manifestações divinas nos cosmos.

Certamente aqueles gregos eram prosélitos, isto é, pagão que tinham se convertido à religião hebraica e que, portanto, como todos os membros do povo eleito, tinham a obrigação de peregrinar a Jerusalém para celebrar a páscoa. O pedido daqueles gregos revela que, mesmo tendo abraçado a religião bíblica, continuavam apegados à curiosidade religiosa própria de sua cultura. Eles estavam prontos para ver Jesus e se admirar com o que Ele podia fazer. Eles esperam ver algo grandioso, um milagre espetacular.

A resposta de Jesus desmonta completamente essas expectativas. Jesus se compara ao grão de trigo caído na terra, que morre para dar fruto. Em vez de orientar o olhar para o alto e para o céu, Jesus atrai o olhar para baixo, para a terra. Em vez de exibir um prodígio extraordinário e exibir um milagre impactante, Jesus indica um acontecimento ordinário natural: o grão caído na terra, que morre e germina! Eles já tinham visto isso tantas vezes! Nada de extraordinário pode ser visto no grão de trigo caído por terra!

Estamos no coração do mistério cristão: a vida na morte, a glória divina através da humilhação da cruz; a altura do céu na profundidade da terra. Esse mistério cristão realiza o amor de Deus que é em si mesmo e que se reversa sobre a humanidade decaída. O coração da fé cristã é isso: acolher o amor que aceita morrer para dar e ser a nossa vida. O onipotente se faz servo; a glória se manifesta na cruz! Deus onipotente se faz grão de trigo, entra nos sulcos da terra, carrega consigo todo sofrimento e a morte da humanidade para, do ventre da terra, ressuscitar.

A história do grão de trigo conta a história de Jesus e, por isso, conta também a nossa história. Somos destinados a morrer, mas sabemos pela fé em Cristo que estamos destinados à ressurreição. O grão de trigo morre para uma vida nova; o nosso corpo morre para ser revestido de Cristo, para ser nele transfigurado. A semente de trigo deve morrer, assim como nós devemos nos abrir. Sim, porque a ressurreição não é uma ação automática: é necessário permitir que o Senhor rompa a casca do nosso egoísmo e pecado. É o difícil processo de conversão a que somos chamados a viver nesta quaresma e nesta CF.

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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