Comentário ao Evangelho – Domingo 20/06/2021

12º Domingo TC B

Mc 4, 35-40

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A comunidade cristã dos evangelistas era uma comunidade duramente perseguida. Os cristãos do tempo de Marcos experimentavam quotidianamente a insegurança de viver como cristãos: perseguidos por causa da fé em Cristo, proibidos de prestar culto publicamente, obrigados à vida marginal, os fiéis da Igreja deviam experimentar grande consolo e confiança toda vez que ouviam as palavras de Jesus: “Silêncio! Cala-te!”. É possível também que houvesse alguns que se sentissem envergonhados por terem tanto medo da perseguição e das provações: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” Certamente não eram poucos os que no momento do perigo tinham clamado a Jesus: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” A reação de medo dos discípulos era compreensível: a Igreja em que eles viviam mais parecia uma frágil barca, prestes a afundar e Jesus, mesmo estando na barca, parecia dormir!

Essa mensagem de confiança não perdeu nada de sua força consoladora e ressoa também para nós como encorajamento em meio às provações e como reprovação de nosso medo e pânico. Como no tempo do evangelista Marcos, a Igreja hoje está sendo açoitada pelo vento da contradição e da prova. Por sermos cristãos, somos acusados justa e injustamente. Como no tempo do evangelista Marcos, as ondas do mar em tempestade se precipitam sobre a Igreja: há discussões e intrigas fora e dentro da Igreja. Os sinais são o de que a Igreja está com seus dias contados e perto do naufrágio.

De novo, o Senhor, nos repete o que disse aos discípulos na barca: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” O mestre parece dormir na barca, mas é Ele que carrega a barca.

Alguns dão por certo o fim da Igreja e que a fé será liquidada em breve. Mas isso também não é novo: sempre houve, em todos os períodos da história, os que decretaram o fim da Igreja e, no entanto, a Igreja continuou, apesar de sermos tão desajeitados e desorientados. Sinal de que a Igreja é guiada e conduzida não por nós, mas pelos Senhor, mesmo que pareça adormecido.

O evangelho de hoje, porém, não está dirigido aos “de fora”, mas a nós, que somos medrosos e pessoas de pouca fé. O episódio da tempestade acalmada é narrado para nós que olhamos mais as ondas que nos ameaçam do que o Senhor que está na barca da Igreja.

Outra coisa importante a ser levada em consideração é que as tempestades mais perigosas não são as que sobrevêm contra a Igreja, mas as tempestades que estão dentro de nosso coração: as tentações, os desânimos, as revoltas. Essas tempestades interiores são muito mais destrutivas e perigosas. Por isso precisamos despertar Jesus que está como que adormecido em nosso coração. “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” É necessário despertar Jesus que dorme procurando-o na oração e na prática da caridade.

O mar imenso e profundo com sua calma e com as suas tempestades é, na Bíblia, a criatura que melhor se presta a medir a grandeza e o poder imensos de Deus. Mas mais impressionante do que o mar é a beleza da assembleia dos fiéis reunida para a eucaristia: “O mar é lindo e canta os louvores a Deus, mas quanto mais linda é a assembleia dos fiéis na qual o sussurro misturado das vozes é semelhante às ondas que se quebram na praia: uma só voz de homens, mulheres, crianças se eleva em meio às orações que elevamos a Deus. Uma calma profunda mantém esta voz na paz” (São Basílio Magno). A missa é sacrifício de louvor. Não empobreçamos a missa dominical com elementos estranhos ao louvor, a doxologia, a evocação das maravilhas do Senhor, a ação de graças: torcida, teatro, televisão, show).

Nosso louvor está contaminado de vaidade, de interesses e de adulação. Esse louvor não é digno de Deus e ele não chega ao céu. Mas nós temos Jesus na barca! Mais uma vez peçamos a Ele que purifique o nosso louvor a Deus. Melhor que seja Ele o nosso alto-falante vivo junto ao Pai. Que nosso louvor chega ao Pai por Cristo, em Cristo e com Cristo, e seja transportando pelo sopro poderoso do Espírito Santo.

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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