7º Domingo do TC Ano C
Lc 6,27-38
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Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam.
Essa ordem de Jesus continua nos causando impacto e escândalo. O que fazer? Cancelá-las do Evangelho? Apagá-las da nossa consciência? Deixá-las para tempos melhores?
Em um contexto de violência e de grande insegurança social, em meio ao terrorismo e a criminalidade crescente, no contexto da agressividade verbal incontida e disseminada da internet, as palavras de Jesus parecem fadadas ao fracasso e à indiferença com algo ultrapassado ou romântico.
Diante do inimigo não mudou muito a tendência normal das culturas do passado e do presente: “Considero como norma estabelecida que alguém deve procurar prejudicar seus inimigos e se pôr a serviço dos seus amigos” (Lísias, séc. V a.C).
Em relação aos amigos e às pessoas benevolentes não mudou também a tentação e o perigo do egoísmo disfarçado: amar os outros apenas na medida e que representam um ganho e uma vantagem para a minha vida.
Se amais os que vos amam, que recompensa tereis? Também os pecados amam os que os amam. E se fazeis o bem aos que vos fazem o bem, que recompensa tereis? Também os pecadores agem assim. E se emprestais somente àqueles de quem esperais receber, que recompensa tereis? Até os pecadores emprestam a pecadores para receberem o equivalente.
Em outras palavras: somente quando nos sacrificamos pelo outros sem esperar nada em troca, somente quando amamos sem que o outro mereça, somente quando perdemos para que o outro ganhe, somente assim atingiremos o mistério do amor de Cristo que morreu por nós quando éramos seus inimigos.
Esse amor é tão revolucionário e novo que os primeiros cristãos criaram uma palavra nova para exprimir esse amor de Cristo por nós e o amor dos cristãos pelos outros: Ágape. Por isso, é preciso manter o mandamento de Cristo como monumento visível para os tempos de hoje.
Precisamos entender bem: o mandamento de Cristo não é lei: é Evangelho! É próprio da lei impor obrigações e nos deixa sozinhos na luta de cumprir com tais obrigações. A lei é boa para nos impor o que devemos fazer, mas não nos dá a força para cumprir com tais obrigações. Fazendo assim ou ela dá ocasião para a nossa vanglória quando conseguimos cumpri-la ou evidencia a nossa fraqueza e a nossa queda.
O mandamento de Cristo de amar o inimigo, porém, não é uma lei, mas o Evangelho! Para entender essa diferença, somos ajudados por São Paulo: O que era impossível para a Lei, visto que a carne tornava impotente, Deus o fez! Enviando o seu próprio Filho, condenou o pecado na carne (Rm 8,3).
Amar o inimigo não é um dado marginal da vida cristã. Amar o inimigo está no centro do Evangelho, porque Deus nos amou quando éramos seus inimigos. Jesus fez o bem a quem o odiava, perdoou a quem o crucificava, deu a quem não tinha com o que lhe pagar.
Amar o inimigo é Evangelho, porque Jesus é o Evangelho! Querem saber o que é o Evangelho, olhe para Jesus; veja como ele amou os inimigos; contemple que todos os dias ele continua a ser bom para com os ingratos e maus, continua perdoando quem não merece, continua se entregando por quem não corresponde ao seu amor: eu!
Amar o inimigo é Evangelho porque Jesus não só dá o exemplo, mas também dá a força, dá a graça para quem enfrenta as mesmas dificuldades que Ele enfrentou, para os que são caluniados, são odiados, são feridos injustamente. Se nos entregarmos à graça de Cristo, poderemos imitar o amor de Jesus.
Amar o inimigo não é lei, mas Evangelho, porque o mandamento de Cristo não é a condição para estar próximo de Deus; é, pelo contrário, o resultado e a consequência da proximidade de Deus. Amo não para estar próximo de Deus; amo porque fui transformado pela proximidade de Deus!
No fim das contas, amar o inimigo equivale a imitar em nosso amor, o amor de Deus por nós. Amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar nada em troca. Então sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é generoso também para com os ingratos e maus.
Algumas indicações práticas
- Amar o inimigo não é primeiramente um sentimento de afeto e de carinho para com ele. Ante o inimigo, o cristão mantém uma atitude de respeito pela sua dignidade por mais desfigura que ela se apresente.
- Não pagar o mal com o mal: se sou odiado, não retribuo com ódio; se sou caluniado, não respondo com calúnia; se sou prejudicado economicamente, não pago na mesma moeda; se alguém me amaldiçoa, não o amaldiçoo.
- Transformar a ofensa em compaixão. Compaixão não é desprezo! É reconhecer que o mal faz mais dano ao autor do que à vítima do mal. Se sou vítima do mal, reconheço que o meu inimigo é muito mais prejudicado do que eu.
- Agir procurando o bem concreto de quem me odeia, ou seja, vencer o mal com o bem: fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam.
- Há situações que esse amor aos inimigos parece impossível. Na realidade o amor ao inimigo é impossível sempre, se não formos ajudados pela graça divina. De qualquer forma, é exatamente quando nos sentimos mais feridos pelo inimigo é que devemos nos lembrar de que nós vivemos do perdão de Deus. Ele nos salvou quando éramos seus inimigos. Somente quem reconhece com verdade quanta ferida já provocou ao coração de Jesus e mesmo assim continua sendo amado, pode, com a ajuda do mesmo Jesus ferido, amar aqueles que nos ferem gravemente.
Por Dom Julio Endi Akamine SAC
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