3º. Domingo da Quaresma B
Jo 2, 13-25
Clique para ouvir o Evangelho e seu comentário:
Quaresma é um tempo de conversão e de renovação. Mas para isso é preciso uma corajosa revisão da própria vida moral e da própria vida de oração.
A liturgia de hoje chama a nossa atenção para estes dois aspectos da vida cristã: a vida moral e a vida de oração.
Comecemos com a vida de oração. A purificação do templo de Jerusalém nos mostra Jesus irado com o que estava acontecendo na casa do Pai. Os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas tinham tomado o templo para negócios. O que deveria ser um serviço para o culto dos peregrinos se tornara uma fonte de lucro. Conforme as palavras de Jesus, tinham transformado a casa do Pai em casa de comércio. Trata-se de uma perversão da finalidade do templo: em vez de servir a Deus, serve aos interesses econômicos; em vez de culto, é uma atividade de barganha.
A purificação é um gesto messiânico: revela quem é Jesus. Jesus é o novo templo do novo culto a Deus, no qual os verdadeiros adoradores adoram Deus em espírito e verdade. o novo culto no novo templo consiste, de agora em diante, em oferecer a Deus tudo em Cristo.
A segunda condição para que nosso culto seja agradável a Deus é que ele seja expressão de uma vida orientada para Deus e obediente à sua lei. Para que o culto agrade a Deus é preciso que o culto não esteja separado da vida moral. Honrar Deus só com os lábios enquanto o coração está longe dEle é paganismo e hipocrisia.
Por isso a liturgia de hoje nos propõe, na primeira leitura, o Decálogo. O Decálogo toca as situações cotidianas da vida: a família, as relações sociais, o trabalho e o descanso, a vida sexual.
Que relação há entre nosso culto a Deus e a nossa vida moral?
Se nossas mãos pingam sangue ou são violentas, se não procuramos a justiça e não socorremos os necessitados, Deus repete para nós: Deixai de me apresentar ofertas inúteis; não posso suportar delito e solenidade (cf. Is 1,11ss).
Se nós não honramos pai e mãe, se os abandonamos na velhice e só nos interessamos deles para integrar a aposentadoria deles aos nossos ganhos, Deus continua nos repetindo: Deixai de me apresentar ofertas inúteis; não posso suportar delito e solenidade.
Se nossa vida sexual é dúbia e desregrada, se se deixa guiar unicamente pela busca do prazer, sem se deter nem diante do adultério e da fornicação, Deus repete a nós: Deixai de me apresentar ofertas inúteis; não posso suportar delito e solenidade.
3º. Mandamento: guardar domingos e festas de guarda
O domingo distingue-se expressamente do sábado. Ele substitui o sábado dos judeus. Por que?
- porque o domingo realiza plenamente, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual do sábado judaico (libertação do pecado, descanso eterno e nova criação);
- porque a lei do sábado preparava para o mistério de Cristo; assim a prática religiosa do sábado era figura de um aspecto relativo a Cristo (2175).
Jesus ressuscitou de entre os mortos “no primeiro dia da semana” (Mc 16,2). Esse “primeiro dia” pode ser contato também como “oitavo dia”:
- Enquanto “primeiro dia”, o dia da ressurreição de Cristo lembra a primeira criação.
- Enquanto “oitavo dia”, a seguir ao sábado, significa a nova criação, inaugurada com a ressurreição de Cristo.
Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e nele nos alegremos (Sl 117,24). A Palavra de Deus é palavra e ato.
1º. Mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas
Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que existe acima nos céus, ou embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra (Ex 20,4).
Esta imposição divina comportava a proibição de qualquer representação de Deus feita pela mão do homem. O Deuteronômio explica: “Tomai muito cuidado convosco, pois não vistes imagem alguma no dia em que o Senhor vos falou no Horeb do meio do fogo. Portanto, não vos deixeis corromper, fabricando para vós imagem esculpida” (Dt 4,15-16). Quem Se revelou a Israel foi o Deus absolutamente transcendente. Ele “está acima de todas as suas obras” (Eclo 43,27-28).
No entanto, já no Antigo Testamento Deus ordenou ou permitiu a instituição de imagens, que conduziriam simbolicamente à salvação pelo Verbo encarnado: por exemplo, a serpente de bronze, a arca da Aliança e os querubins.
Ao se encarnar, o Filho de Deus inaugurou uma nova “economia” das imagens. Jesus é a imagem do Deus invisível.
O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, pois o primeiro mandamento proíbe o culto aos ídolos.
Nós veneramos a imagem, não a adoramos. Veneração é a honra respeitosa que prestamos à imagem porque ela representa a pessoa de Jesus ou dos santos. Quem venera uma imagem venera nela a pessoa representada. A honra prestada às santas imagens é uma “veneração respeitosa” e não uma adoração, que só pode ser dada a Deus. O culto da religião não se dirige às imagens em si mesmas, mas nos conduzem à realidade que ela representa.
A Palavra de Deus é um apelo para nossa renovação quaresmal.
Por Dom Julio Endi Akamine SAC
Veja mais em: Biografia / Agenda do Arcebispo / Palavra do Pastor / Youtube / Redes Sociais