Comentário ao Evangelho – Domingo 06/06/2021

10o Domingo TC Ano C

Mc 3, 20-35

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No Evangelho de hoje, Jesus anuncia a derrota do reino de Satanás. Tal derrota estava prometida desde o início do mundo e agora se torna realidade com a ação de Jesus Cristo. Esse é o sentido da parábola de Jesus: Satanás é o homem forte que é derrotado por um outro mais forte do que ele e que tem seus bens roubados por este mais forte. Satanás está para acabar. Ele é amarrado e sua casa, ou seja, o seu reino, o mundo, é saqueado pelo mais forte que é Jesus. Agora Jesus inicia o seu reino.

Poucos trechos do evangelho conseguem dar este sentido da autoridade de Jesus. Ele derrota Satanás e acaba com o seu domínio sobre o mundo. Agora o dominador é Jesus.

Nós não somos mais prisioneiros da casa de Satanás. Jesus veio finalmente e dominou Satanás. Nós fomos conduzidos para fora da prisão de Satanás. Tudo isso foi realizado pelo mistério pascal, quando Jesus invadiu a casa de Satanás e nos trouxe para a liberdade. Esse acontecimento se verificou para nós no batismo, na crisma e na eucaristia quando escapamos de Satanás e de suas seduções e passamos para o Reino do Filho bem-amado.

A mensagem do evangelho de hoje é também uma mensagem para a nossa vida. A batalha final decisiva entre o reino de Satanás e de Cristo já tem um vencedor. Mas a batalha do dia a dia continua. A serpente continua a armar ciladas. Ele foi expulso da casa no batismo, mas ele continua tentando voltar para a casa de onde saiu. E se ele voltar a situação se torna mais lamentável do que antes.

Portanto, os tempos de hoje são tempos de vigilância, de decisão e de perseverança. É preciso lutar porque rebelião e guerra de Satanás contra os cristãos que foram conquistados por Cristo continua.

A rebelião de Satanás contra Deus não se deu somente em um passado distante e durante a vida terrena de Jesus. A história da salvação não chegou ao seu termo, e o juízo final sobre os demônios deve ainda ocorrer. Até o retorno de Cristo, o mundo é ainda teatro do conflito entre o Reino de Deus e o de Satanás. Por isso às potências demoníacas permanece a possibilidade de uma atividade (preste atenção: uma atividade limitada e permitida) na tentação e sedução dos homens.

É preciso sempre lembrar que a vitória de Cristo é vitalmente muito mais eficaz e poderosa na defesa e proteção da Igreja. Na rebelião contra Deus, o influxo de Satanás sobre o homem nunca se iguala ao de Deus: somente Deus pode agir no íntimo da pessoa, a partir do seu interior (do coração). Por ser uma criatura, Satanás pode influenciar o homem somente através da instrução, da persuasão e da excitação, a partir de fora, das paixões e dos afetos do homem.

Há também casos de ação demoníaca por possessão. Em senso estrito possessão é a tomada de posse do corpo por parte de Satanás. Desconhecemos a extensão total dos poderes do demônio sobre o universo criado, no qual se inclui a humanidade. Sabemos que, tanto na Bíblia quanto na história, há casos em que o diabo penetra no corpo de uma pessoa e controla as suas atividades físicas (palavra, movimentos e ações). Mas o diabo não pode controlar a alma; a sua liberdade permanece inalterada e nem todos os demônios do inferno juntos têm o poder ou a permissão de forçá-la. Em princípio, não devemos menosprezar a influência do demônio e julgá-la insignificante; nem devemos julgar que todos os transtornos de personalidade (histeria, doença psíquica, distúrbios mentais, desvios) sejam possessão demoníaca. O remédio sacramental contra a possessão é o exorcismo.

Além da sedução, sugestão, instrução (tentação a partir de fora) e da possessão, o demônio, enquanto criatura que pertence ao Cosmo, pode também se servir de elementos criados. Em sua rebelião contra Deus, o demônio pode atuar nos males físicos (para entender a distinção entre males físicos e morais cf. Catecismo da Igreja Católica, 309-314) em modos e em graus diferentes. Mas também nesse caso, é muito difícil ver com clareza se um evento no cosmo (por exemplo, um cataclismo, uma catástrofe climática, uma pandemia) pode ser explicado como fenômeno natural ou deva ser atribuído aos poderes demoníacos. De fato, atualmente o homem, graças ao progresso das ciências naturais, está em condições melhores para compreender e interpretar os eventos climáticos, sísmicos, ambientais, ecológicos do que as gerações passadas. De qualquer forma, devemos ter claro que Satanás e os seus anjos, em virtude da sua criaturalidade, estão inseridos no conjunto do cosmo e tem a capacidade de exercer uma influência deletéria (a atividade demoníaca não é construtiva e sim destrutiva do mundo e da humanidade) também sobre as criaturas infra-humanas. Essa possível influência sempre se dá na medida da permissão divina e no âmbito do governo providente de Deus. Contra esse influxo de Satanás sobre os elementos criados, o remédio protetor é o sacramental da consagração.

Satanás pode agir também através de maldições. Esse caso está incluído nos que os demônios agem através de poderes desconhecidos e que não são explicáveis pelas ciências naturais (sortilégio, bruxaria, mandinga, feitiçaria, magia, adivinhação, satanismo, etc.). Essas práticas, mesmo que não provoquem dano direto, causam geralmente confusão, inquietude e medo. Aqui é preciso discernimento prudente entre o campo das forças demoníacas e o das forças naturais. Por isso, não devemos descartar que uma pessoa dotada de forças demoníacas possa provocar um mal. Mas a verificação de tal possibilidade só deve ser admitida quando todas as explicações naturais forem insuficientes. Contra tal influxo de Satanás através do recurso a forças ocultas, o remédio protetor é a bênção.

Diante da atuação demoníaca, a Igreja recebeu meios genuínos de defesa, nos quais se aplica o poder vitorioso de Cristo. São os sacramentais da consagração, da bênção e do exorcismo. Mas muito mais eficaz e importante é a defesa de uma vida santa, fundada na fé, na graça e na comunhão com Cristo. Para que Satanás fuja do cristão, não há providência melhor e mais eficaz do que a adesão firme e consciente a Cristo através dos sacramentos, da oração, da vigilância e de uma vida santa.

 

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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