Comentário ao Evangelho – 30º Domingo A – 29.10.2023

30º Domingo A

Mt 22,34-40

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Os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus. Quatro perguntas e quatro respostas mostram a crescente tensão com as autoridades judaicas (os fariseus, os herodianos e os saduceus). Três vezes Jesus é interrogado, a quarta é Ele que faz a pergunta e os deixa sem resposta. As perguntas e os interlocutores vão mudando: a primeira sobre o tributo a César (discípulos dos fariseus e herodianos), sobre a ressurreição (saduceus), sobre o preceito máximo (um fariseu com título de doutor), sobre o filho de Davi. Podemos classificar aproximadamente: a primeira é política, a segunda, teológica, a terceira, ética, e a quarta, messiânica.

Jesus ia vencendo os adversários que contra Ele se atiravam. Os fariseus ficaram tão impressionados que sentiram que o caso exigia outra reunião para traçar planos e mudar a estratégia. Por isso resolvem atacar a teologia com o objetivo de desacreditar Jesus.

Há uma maldade deliberada contra Jesus. A pergunta não é feita com a intenção de ser discípulo. Tratava-se de uma tentativa maliciosa de lançar Jesus no descrédito.

Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Uma das principais disputas entre as várias facções rivais das escolas religiosas girava em torno da prioridade dos mandamentos. O doutor da lei certamente se orgulhava de seu conhecimento sobre essas questões e esperava deixar Jesus perplexo. Imaginava que Jesus era menos preparado do que ele por não ter frequentado suas escolas teológicas.

Os fariseus enumeravam 248 (duzentos e quarenta e oito) preceitos afirmativos (tanto quantos os membros do corpo humano) e 365 (trezentos e sessenta e cinco preceitos negativos), tanto quanto os dias do ano; o que dá o total de 613 (seiscentos e treze preceitos), número das letras do decálogo, no original hebraico.

Jesus poderia ter teoricamente indicado diversas coisas como o mandamento mais importante: o dízimo, as cerimônias, a observância do sábado, a oração, etc.

Dentre os 613 mandamentos, Jesus escolhe. A escolha não é aleatória, nem arbitrária. Ela é a escolha de Jesus sempre, em todas as ocasiões, em todas as ações, em todas as suas vontades, em toda a sua vida! A resposta de Jesus não se refere somente ao mandamento mais importante, mas busca o princípio que unifica a vida de Jesus e sua missão.

Tal como os marinheiros encontram sua posição pelo firmamento e descobrem o lugar em que estão, tal como os aparelhos de GPS indicam a posição e a direção de uma viagem, esse primeiro mandamento nos revela quem somos, qual é nossa vocação e destino. Como não somos (nem deveríamos ser) guiados pelas luzes de outros navios, assim nossa existência não é guiada pelos outros. Caminhamos com os irmãos, mas não para eles. Sem orientação nossa vida se torna um caos e nos perdemos em meio ao ativismo.

Amarás o Senhor teu Deus” indica que somos criaturas, que nossa natureza é a de ser criaturas em relação de dependência ao Criador. É a linha vertical da nossa vida. Sobre ela repousa o sentido de nossa existência.

Mais. “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4,19). Ser criatura de Deus não significa somente dependência, submissão e impotência; é também nossa dignidade, grandeza e vocação: refletir o amor que Deus é. Deus é amor e somos criados à sua imagem e semelhança.

Para amar Deus é necessário o amor elevado ao seu mais alto grau, com tudo que há em nós e somos: coração, alma, entendimento: “Amar Deus” é o maior mandamento não somente no sentido de uma prioridade em relação aos outros mandamentos. É o maior no sentido que de que dá valor a toda obediência. A vida assume significado porque Deus existe e é o destino de nossa existência e peregrinação desta vida. Se removermos Deus, perdemos nossa estrela guia e o sentido de tudo.

O segundo é semelhante a esse. Jesus ensina que são incompatíveis a devoção a Deus e o abuso contra nossos irmãos. O amor é a base de todas as nossas ações humanas razoáveis e dignas. O amor a Deus requer amor ao próximo.

Amar o próximo significa tratá-lo como fim e não como meio. Significa que deve ser respeitado por aquilo que é, devido ao valor de sua própria individualidade e pessoa, e não por causa do proveito e do benefício que podemos extrair de nossa amizade com ele.

Como a ti mesmo. Cuidar de nós mesmos é algo muito intenso e “espontâneo”. Damos atenção à nossa alimentação, à nossa educação, queremos ocupar uma boa posição na sociedade, que sejam respeitos os nossos direitos, evitamos os acidentes e as doenças. Até mesmo coisas ínfimas (o perfume, as roupas que usamos, os objetos que compramos, o carro que dirigimos), quando estão relacionadas à nossa pessoa, se tornam coisas importantes para nós.

Jesus nos ensinou que esse amor natural por nós deve ser transferido para os outros. Jamais seremos transformados segundo a imagem de Cristo, enquanto não aprendermos a amar os outros com a mesma intensidade, prontidão e espontaneidade com que amamos a nós mesmos.

Jesus nos ensinou a manter esses dois amores unidos: o amor a Deus é primeiro na ordem do preceito, o amor ao próximo é o primeiro na ordem prática.

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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